terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Batalhas e Guerreiros

Há coisas que é preciso intelectualizar antes de as dizer. Não, porque sejam intelectuais (por isso, são intelectualizadas), mas porque é mais fácil, nem mais correto, nem menos, só mais fácil por se camuflarem numa roupagem que as liberta, enclausurando-as nos seus limites.

Ninguém tem toda a razão. Descartes, muito hipocritamente, porque colocou a sua distribuição ao serviço da sua razão, de Descartes, chama a nossa atenção para isso mesmo. Porque Descartes não tem toda a razão, podemos dispensar-nos de nos preocupar com isso.

Ora, acontece que Wittgenstein também não tem toda a razão, sobretudo quando, na sua primeira versão, inspira aqueles que reduzem a razão a uma gramática, sem discurso. A sua aversão à escrita, tal como a de Sócrates (para quem a razão é o discurso também), fez com que desprezasse o leitor. Talvez por isso mesmo, tantos leitores escorregaram na casca de banana que Wittgenstein deixou cair no chão.

Diz, então, Wittgenstein que as afirmações que sejam verdadeiras, independentemente das circunstâncias do mundo, não têm sentido. Então, 2+2=4, verdade independente das circunstâncias do mundo, não tem sentido. Dito por outras palavras, não significa nada fora de si mesma. É muito importante, não o seu significado que não tem, mas o seu caráter instrumental, de enxada, para a qual é indiferente ser usada para semear batatas, ou para chacinar uma serpente no campo de cultivo.

Chegamos, agora, ao ponto que interessa. O conceito de grande batalha não tem sentido, ou, dito por outras palavras, só tem "sentido" para si mesmo, não significando nada fora dele. Um grande massacre é um grande massacre, seja hoje, amanhã, ontem, aqui ou ali. Não tem sentido. Não se desloca para aqui ou para ali numa linha de direção (uma certa falta de cultura linguística, anda por aí a fazer confusões entre o conceito, por exemplo, de direção Porto-Lisboa, e o conceito de sentido Porto-Lisboa, numa linha que, no mínimo envolve dois sentidos).

Só os guerreiros podem ser grandes ou pequenos. O problema é que são grandes e pequenos, nessa tal linha, a ser percorrida dinamicamente em dois sentidos: o da grandeza e o da pequenez.

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