quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A Estética de Hegel (aulas)

Encontrei finalmente excertos fiáveis e integrais, se combinados corretamente uns com os outros, das lições de Hegel sobre Estética, nas minhas bases de dados. Hegel é um pouco obscuro a escrever, mas consegue complicar as coisas ainda um pouco mais quando fala. Estas lições são faladas e reproduzidas por escrito. Portanto... Vou ver se faço uma seleção destas lições numa tradução para português tão aceitável quanto a minha dificuldade. Como alguém com comichão se sente motivado para se coçar, assim eu tenho de retomar a escrita, nem que seja para nada.
Aqui vai um exemplo:

I.  Delimitação  da  Estética  e  Refutação  de  Algumas
Objeções  contra  a  Filosofia  da  Arte

Por  meio  desta  expressão  excluímos  de  imediato  o  belo  natural.  Tal  delimitação  de  nosso  objeto  pode,  sob  certo  aspecto,  parecer  uma  determinação  arbitrária,  já que  cada  ciência  está  autorizada  a  demarcar  como  bem  entende  a  extensão  de  seu campo.  Mas  não  devemos  tomar  neste  sentido  a  limitação  da  estética  ao  belo  da  arte.
É  certo  que  na  vida  quotidiana  estamos  acostumados  a  falar  de  belas  cores,  de  um  belo
céu,  de  um  belo  rio,  como  também  de  belas  flores,  de  belos  animais  e,  ainda  mais,  de belos seres  humanos,  embora  não  queiramos  aqui  entrar  na  discussão  acerca  da  possibilidade  de  se poder  atribuir  a  tais  objetos  a  qualidade  da  beleza  e  de  colocar  o  belo natural  ao  lado  do  belo artístico.  Mas  pode-se  desde    afirmar  que  o  belo  artístico está  acima  da  natureza.  Pois  a beleza  artística  é  a  beleza  nascida  e  renascida  do espírito  e,  quanto  mais  o  espírito  e  suas produções  estão  colocadas  acima  da  natureza  e  seus  fenómenos,  tanto  mais  o  belo  artístico  está  acima  da  beleza  da  natureza.
Sob  o  aspecto formal,  mesmo  uma    ideia,  que  porventura  passe  pela  cabeça  dos homens,  é superior  a  qualquer  produto  natural,  pois  em  tais  ideias  sempre  estão presentes  a espiritualidade  e  a  liberdade.  É  verdade  que  segundo  o  conteúdo,  por exemplo,  o  sol  aparece  como  um momento  absolutamente  necessário,  enquanto uma  ideia  enviesada  se  desvanece  como  casual  e efémera.  Mas,  tomada  por  si  mesma,  a  existência  natural  como  a  do  sol  é  indiferente,  não  é livre  em  si  mesma  autoconsciente  e,  se  a  considerarmos  segundo  a  sua  conexão  necessária com  outras coisas,  não  a  estaremos  considerando  por  ela  mesma  e,  portanto,  não  como  bela.
Dissemos,  de  modo  geral,  que  o  espírito  e  sua  beleza  artística  estão  acima  do belo  natural. Entretanto,  com  isso  quase  nada  foi  de  facto  estabelecido,  pois  "acima" é  uma  expressão totalmente  indeterminada,  que  ainda  designa  a  beleza  natural  e  beleza  artística  como  se estivessem  uma  ao  lado  da  outra  no  espaço  da  representação;  ela  apenas  estabelece  uma diferença  quantitativa  e,  por  isso,  exterior.  A  superioridade  do  espírito  e  de  sua  beleza artística perante  a  natureza,  porém,  não  é apenas  algo relativo,  pois  somente  o  espírito  é  o  verdadeiro, que  tudo  abrange em  si  mesmo,  de  modo  que  tudo  o  que  é  belo    é  verdadeiramente  belo quando toma  parte  desta  superioridade  e  é  por  ela  gerada.  Neste  sentido,  o  belo  natural aparece somente  como  um  reflexo  do  belo  pertencente  ao  espírito,  como  um  modo incompleto  e imperfeito,  um  modo  que,  segundo  a  sua  substância,  está  contido  no próprio  espírito.  -  Além disso,  parece-nos  bastante  natural  a  limitação  à  arte  bela, pois  mesmo  que  se  fale  de  belezas naturais  -  menos  nos  antigos  do  que  entre  nós  nunca  ocorreu  a  ninguém  enfocar  as  coisas naturais  do  ponto  de  vista  de  sua beleza, e  constituir  uma  ciência,  uma  exposição  sistemática, de  tais  belezas.  Ao  contrário,   foram  tratadas  do  ponto  de  vista  da  utilidade  e  concebeu-se, por  exemplo,  uma ciência  das  coisas  naturais  que  servem  para  combater  as  doenças,  uma  matéria médica,  uma  descrição  de  minerais,  produtos  químicos,  plantas,  animais  que  são úteis para  a  cura,  mas  as  riquezas  da  natureza  nunca  foram  compiladas  e  julgadas do  ponto  de  vista  da  beleza.  Sentimo-nos  em  relação  à  beleza  natural  demasiadamente  no  elemento  do indeterminado,  não  possuindo  critério  e,  por  isso,  uma  tal compilação  ofereceria  muito  pouco  interesse.
Estas  observações  prévias  sobre  a  beleza  na  natureza  e  na  arte,  sobre  a  relação de  ambas  e  a exclusão  da  primeira  do  âmbito  de  nosso  autêntico  objeto  devem afastar  a  concepção  de  que  a delimitação  de  nossa  ciência  deve-se  somente  à  arbitrariedade  e  ao  capricho.  Essa  relação  por enquanto  não  deve  ser  demonstrada,  pois sua  consideração  recai  no  seio  de  nossa  própria ciência  e  deve,  por  isso,  ser  somente  mais  tarde  discutida  e  provada  com  mais  rigor.
(Claro, pode ser que continue)

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