segunda-feira, 13 de julho de 2009

AUTISMO


Para Reflexão e Debate:

O autismo ou, como prefiro dizer, o pensamento autístico é frequentemente associado a uma modalidade de pensamento primitiva. Para esta crença generalizada contribuiu seguramente a psicanálise, mas também, de um outro modo, a teoria piagetiana que recorreu a este conceito freudiano para explicar o papel intermediário do pensamento egocêntrico na transição do pensamento autístico para o pensamento realista.
Esta crença tem a vantagem fundamental de colocar o pensamento autístico no quadro do que poderíamos chamar "normalidade". Pode haver pessoas estruturalmente autistas, mas é igualmente certo que o pensamento autístico é uma característica possível e inevitável, em certos momentos, de todos os seres humanos.
Salvaguardando essa vantagem "normalizadora" do pensamento autístico, talvez seja pertinente questionar, um pouco na linha de Bleuler ou de Vigostky, o seu carácter primitivo.
A emergência da função autística, tão importante no desenvolvimento harmónico do ser humano, implica um estádio durante o qual os conceitos se combinam independentemente dos estímulos imediatos do mundo exterior. Este estádio estabelece-se com a acumulação da experiência através de deduções e funções lógicas, processos que "aplicam" ao desconhecido a experiência, a partir do que foi o seu objecto, do passado para o futuro. É neste estádio que se desenvolve a capacidade de avaliar várias soluções alternativas e de agir voluntariamente. Só que também é neste estádio que se desenvolve a forma de pensamento correspondente, isto é, um pensamento que consiste inteiramente na recordação de imagens que não se ligam directamente à estimulação acidental dos órgãos dos sentidos.
É neste momento do desenvolvimento da criança (por volta do 18 meses) que pode aparecer a função autística.
Nesta perspectiva, será difícil explicar por que razão o pensamento realista se revela como sendo o mais desenvolvido; e, dada e exigência do pensamento autístico e o seu papel fundamental na criatividade e investigação científica, mantém-se um desafio compreender como uma alteração geral do psiquismo a favor da função autística afecta tão gravemente e de forma tão regular a função do real.

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