quinta-feira, 19 de abril de 2007

RACIOCÍNIO E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS


Este texto corresponde a uma primeira versão da Introdução a um capítulo sobre Raciocínio e Resolução de Problemas, na perspectiva da psicologia cognitiva. É indicada a bibliografia de suporte à redacção desse capítulo.

Raciocínio e resolução de problemas


Imaginem que vos é colocada a seguinte questão: “Segundo a vossa opinião, quais são as tarefas que requerem uma actividade mental dita inteligente?” É muito provável que pensem nos tipos de tarefas que vão precisamente ser objecto de análise neste capítulo. Antes de as definirmos, vamos ver primeiro alguns exemplos: jogar xadrez, organizar uma argumentação, resolver um problema de matemática ou de lógica, encontrar a solução de um enigma ou de um quebra-cabeças, encontrar um compromisso eficaz durante uma discussão... Em todos estes exemplos, a actividade cognitiva é lenta, deliberada, controlada e requer toda a atenção do sujeito: fala-se neste caso de actividade cognitiva de “alto nível” que se opõe às actividades cognitivas de “baixo nível”, de natureza automática, incontroladas, rápidas.
Para melhor perceber esta distinção, podemos comparar o que se passa quando tentamos resolver um problema lógico com o que se passa numa tarefa de reconhecimento das faces de pessoas. No segundo caso, tudo acontece sem grande esforço da nossa parte; em geral, nem temos a menor ideia a respeito dos processos cognitivos que nos permitem reconhecer uma pessoa pela cara ou uma palavra conhecida. Em boa verdade, até pode ser-nos impossível não reconhecer uma face ou uma palavra, precisamente quando desejaríamos não ser capazes de o fazer. No primeiro caso (resolução de um problema lógico), não conseguimos alcançar o objectivo pretendido sem um certo esforço cognitivo. Diz-se a este respeito que “é preciso reflectir”. O objectivo deste capítulo será, então, o de analisar aquilo que pode ser referido pelo termo “reflectir”, ou “raciocinar”.
De um ponto de vista neurológico, sabe-se actualmente que as áreas frontais associativas são as mais implicadas nas actividades cognitivas de alto nível. Deve reconhecer-se, todavia, que a abordagem neurofisiológica das actividades de raciocínio ainda é muito incipiente e que esclarece ainda muito debilmente a nossa compreensão, a respeito do que fazem os homens, quando raciocinam ou quando reflectem. Por conseguinte, a abordagem privilegiada dos psicólogos que trabalham neste domínio não é uma abordagem estrutural e neurológica, mas sobretudo uma abordagem funcional que tenta descrever as operações mentais que efectuamos, mais do que o suporte material dessas operações (cf. doc. nº 1).
Neste capítulo, retomaremos algumas distinções muito clássicas. Abordaremos, por exemplo, os raciocínios e a actividade de resolução de problemas. No que diz respeito ao raciocínio, distinguiremos os raciocínios de tipo dedutivo e os raciocínios não demonstrativos. Em todo o caso, a actividade cognitiva não é fundamentalmente diferente, nestas diferentes manifestações, de “reflectir”. É essencialmente para tornar o texto mais claro que adoptaremos esta distinção. Ela diz mais respeito ao tipo de tarefa do que ao tipo de actividade cognitiva.

Bibliografia:
JOHNSON-LAIRD, P.N. (1994) L’ordinateur et l’esprit. Paris: Odile Jacob
LINDASY, P.H. E NORMAN, D.A. (1980) Traitement de l’information et comportement humain, une introduction à la psychologie. Paris: Éditions Études Vivantes.
RICHARD, J. F., BONNET, C. E GHIGLIONE, R. (1990) (Eds.) Traité de psychologie cognitive. Paris: Dunod (sobretudo vol. 1 e 3)
RICHARD, J.F. E GHIGLIONE, R. (1995) (Eds.). Cours de Pshychologie. Paris: Dunod (vol 6)
WEIL-BARAIS, A. (1993) L’homme cognitif. Paris: Presses Universitaires de France

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