Agora já está. A operação foi-marcada para uns dias antes de ter de renovar a carta de condução para ir trabalhar, sendo certo ter de trabalhar mais meia dúzia de anos, mesmo que ela não seja renovada. Não há-de ser nada. As meninas do balcão estavam muito simpáticas hoje. Eram as duas Rosas. Uma das Rosas até disse "tenho de telefonar à polícia para me irem buscar o filho ao ATL." A outra Rosa não se cansava de dizer aos utentes quando seria a sua operação, se precisavam de levar uns chinelos ou mais do que isso, até que a uma senhora, com o dobro da sua idade disse: "Olhe. querida, vá almoçar e volte aqui, depois das 14,30h. Só vai ser operada amanhã. Pode ir comer à vontade". E a outra: "Adonde, menina?" "pode ir a sua casa, onde lhe apeteça; hoje, já não é operada; só amanhã." A velha era irmã, prima, em todo o caso, da família da outra que, em Braga, apregoou aos quatro ventos: "Bubende, cumende todos e andaide de elétrico". Podiam ser gémeas. Mas desta vez, a senhora baixou os olhos ao chão e deu umas voltas no corredor. Voltou. E, de novo a menina do balcão: "Oh santa. Porque é que não vai comer? - despachou ela. "E adonde? menina?" Aquilo que, antes, era uma só pergunta passou agora a ser duas. Esta mudança de tom e de inquirição daria um volumoso tratado de fonética que valorizaria a estante de quem o tivesse, mas daria pouco dinheiro a quem o escrevesse. E o volumosos Tratado ficou por aqui.
Era aquele clarinete a arancar a Raposódia de Gershwin plays Gershwin: Rhapsody in Blue - YouTube. Nesse clarinete, estão todas as perguntas feitas e a fazer a respeito do universo que é e que um dia há-de ser. Só que agora o "E adonde? menina?" era mais em jeito de saxofone, uma voz mais humanizada, menos fina e mais a sério. Nenhum outro instrumento lhe responde. O piano, mais atrevido, ainda repete a pergunta, mas nunca lhe dá resposta. Não há resposta para pergunta tão importante e tão de dentro "E adonde, menina?" Grande pergunta. Nem o Gershwin. Entretanto, aTV, empandeirada contra a parede dava notícias sobre a tempestade na Europa (fosse lá onde isso fosse, não era aqui). E via-se uma loiríssima menina sueca a ser atirada ao chão prelo vento a questionar-se timidamente "Mas donde vem isto? Não estamos no Sul, onde estas coisas acontecem certamente porque ninguém sabe adonde ir. E perguntam e ninguém lhes responde."
Entretanto a TV avisa a senhora que fez a pergunta que Gershwin não se atreveu a fazer e a mim próprio, que estive calado este tempo todo, que ninguém vai poder ter mais do que 2 cães e 4 gatos. Como é que é possível que o piano de Gershwin não soubesse isto? pergunto eu agora, já que aqui estou, impedido por lei de a mandar ver se está a nevar nos Alpes.
terça-feira, 29 de outubro de 2013
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
24 Franceses descobriram que o seu código civil é de inspiração napoleónica
Pretende-se, então, que os animais não sejam considerados bens móveis (como as cadeiras e as máquinas de cortar relva). Bem pensado. Não fossem eles intelectuais. Só que têm de ler o resto do código civil dos franceses. Já agora, os portugueses podiam fazer o mesmo. É que esse código está escrito que nem por Vítor Hugo. É uma elegância de escrita que não custa ler. Garanto. veja-se:"Sont meubles par leur nature les animaux et les corps qui peuvent se transporter d’un lieu à un autre, soit qu’ils se meuvent par eux-mêmes, soit qu’ils ne puissent changer de place que par l’effet d’une force étrangère." Nem Descartes escreveria com esta clareza e distinção.
Cessons de prendre les animaux pour des chaises !
Les philosophes Michel Onfray et Elisabeth de Fontenay, l'écrivain Erik Orsenna, l'astrophysicien Hubert Reeves, le moine bouddhiste Matthieu Ricard, le neuropsychiatre Boris Cyrulnik, l’historien et journaliste Jacques Julliard… Ils sont 24 au total : 24 intellectuels français à avoir signé un manifeste, rendu public le 24 octobre sur le site de la Fondation 30 millions d'amis, pour réclamer que notre Code civil cesse de considérer les animaux comme des chaises ou des tondeuses à gazon.
Le Code Napoléon l’écrit en effet noir sur blanc dans son article 528 : « Sont meubles par leur nature les animaux et les corps qui peuvent se transporter d’un lieu à un autre, soit qu’ils se meuvent par eux-mêmes, soit qu’ils ne puissent changer de place que par l’effet d’une force étrangère. » Autrement dit, et depuis 1804 : « Les animaux sont encore définis par le Code civil comme des choses, sur lesquelles l’homme peut par conséquent exercer un droit absolu », résument les signataires du manifeste. Précisant que la science a prouvé leur aptitude à ressentir de la peine, du plaisir ou de la douleur, ils rappellent que les animaux sont reconnus pour leur qualité d’« êtres sensibles » dans diverses réglementations françaises et européennes. Et demandent, en conséquence, que cette contradiction soit levée dans le droit français. Un pays d'éleveurs et de chasseurs où le sort réservé aux bêtes est vite perçu comme un mal nécessaire, dès lors qu'elles sont au service de l'économie.
« Pour que les animaux bénéficient d’un régime juridique conforme à leur nature d’êtres vivants et sensibles et que l’amélioration de leur condition puisse suivre son juste cours, une catégorie propre doit leur être ménagée dans le Code civil entre les personnes et les biens », détaillent-ils. Selon la Fondation 30 Millions d'amis, cette proposition a reçu le soutien de plus de 250 000 Français, signataires d'une pétition lancée il y a un an et toujours active. Cette évolution du Code civil serait d’autant plus cohérente que la France, depuis 1976, reconnaît dans son Code rural l'animal comme un « être sensible ». Et qu’elle a également choisi, lors de la réforme de son Code pénal (entrée en vigueur en 1994), de créer pour lui une catégorie à part, dite des « autres crimes et délits ».
Si le caractère sensible des animaux entre dans notre Code napoléonien, comme le réclame également une proposition de loi déposée en novembre 2012 par plusieurs députés UMP, quelle spécificité leur accorder ? Alors que j'interrogeais sur ce point Jean-Pierre Marguénaud, à l’occasion d’une enquête sur « Le droit d’être bête » parue dans le supplément Culture & Idées, ce professeur de droit à l'université de Limoges, fervent défenseur du droit animalier, suggérait de reconnaître à certains animaux une personnalité juridique comparable à celle dont bénéficient les personnes morales, syndicats ou associations. « La portée de cette réforme ne serait pas seulement symbolique, elle pourrait contribuer à déverrouiller le système, affirmait-il. Le décalage entre les textes et leur application est vieux comme le monde mais, en ce qui concerne les animaux, il s'agit d'un décalage sidéral. Changer leur statut juridique n'est donc pas anodin : le juge saisi de l'application des textes ne les interprétera pas de la même manière, selon que les animaux sont considérés comme des biens ou comme des personnes morales. »
Catherine Vincent
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Luta contra a Fome
|
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
A respeito de sentimentos, o melhor é não exagerar. Pode estragar a fotografia
Estudo Os cães têm (mesmo) sentimentos
Para os donos que olham para os seus animais de estimação quase como se de filhos se tratassem, talvez esta informação não acrescente novidade relevante. Aliás, talvez apenas confirme uma certeza que já teriam: os cães são como as pessoas, prova um estudo levado a cabo por Gregory Berns. Veja o vídeo.
DR
14:34 - 21 de Outubro de 2013 | Por Notícias Ao Minuto
‘Como os cães nos amam’ é o título da obra do professor de neuroeconomia da Universidade Emory. Um livro, como tantos outros? Talvez, em parte. Mas a teoria que defende naquelas páginas conhecem agora validade científica.
Ao longo de mais de dois anos, Berns desenvolveu uma investigação que permite concluir que os cães têm, efectivamente, sentimentos. Mais: que as suas emoções são sentidas de uma forma muito semelhante à dos humanos.
Para o efeito, o cientista sujeitou vários animais a múltiplas ressonâncias magnéticas, por forma a “determinar como o cérebro dos cães funciona e, sobretudo, o que eles pensam de nós, humanos”, elucidou Berns num artigo de opinião publicado no The New York Times, e citado pelo Expresso.
Os resultados deixaram pouca margem para dúvidas. Cães e homens comportam-se de forma análoga tanto a nível da “estrutura”, como a nível da função do “núcleo caudado", uma região chave do cérebro,
"Os cães, e provavelmente muitos outros animais parecem ter emoções, assim como nós. E isso significa que precisamos repensar o seu tratamento como propriedade", enfatizou o autor do estudo.
Veja o vídeo.
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Para o efeito, o cientista sujeitou vários animais a múltiplas ressonâncias magnéticas, por forma a “determinar como o cérebro dos cães funciona e, sobretudo, o que eles pensam de nós, humanos”, elucidou Berns num artigo de opinião publicado no The New York Times, e citado pelo Expresso.
Os resultados deixaram pouca margem para dúvidas. Cães e homens comportam-se de forma análoga tanto a nível da “estrutura”, como a nível da função do “núcleo caudado", uma região chave do cérebro,
"Os cães, e provavelmente muitos outros animais parecem ter emoções, assim como nós. E isso significa que precisamos repensar o seu tratamento como propriedade", enfatizou o autor do estudo.
Veja o vídeo.
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'Obrigado troika' manifesta-se hoje
16:00 - 21 de Outubro de 2013
Sindicato interpõe providência cautelar contra 40 horas na PSP
16:00 - 21 de Outubro de 2013
O Portas é que sabe: Esta é a manifestação dos mais pobres que não estiveram na outra. Como é que ele sabe estas coisas? às tantas, também tem sentimentos, como os cães.
Lisboa 'Obrigado troika' manifesta-se hoje
Depois da manifestação de sábado contra as medidas de austeridade, um grupo de apoio à troika, denominado ‘Obrigado troika’, vai manifestar-se hoje, nos Restauradores, em Lisboa, pelas 18 horas, avança o Público. O grupo pretende agradecer a ajuda dos credores internacionais.
PAÍS
DR
16:00 - 21 de Outubro de 2013 | Por Notícias Ao Minuto
Com o objectivo de agradecer a ajuda da Comissão Europeia, BCE e FMI, um grupo de cidadãos de apoio à troika vai juntar-se pela primeira vez esta tarde, pelas 18 horas, na Praça dos Restauradores.
Segundo contou uma das organizadoras do ‘Obrigado Troika’ ao Público, Rita Ferreira de Vasconcelos, trata-se de “um grupo pequeno” de pessoas “que tem falado muito destas coisas”.
“As manifestações a que temos assistido contra a troika levam muitas pessoas para a rua, que, se calhar, não estão informadas”, explicou a bancária de 50 anos. “Sentimos todos [as medidas de austeridade], mas acredito naquilo que me dizem: é absolutamente necessário aquilo que está a ser feito (…) Se todos aceitassem estas medidas, pensando que é um sacrifício que estão a fazer, se calhar muita coisa já podia estar resolvida”, acrescentou.
Para a manifestação desta tarde foram contactadas 400 pessoas, sobretudo via SMS e através da mensagem boca a boca.
A acção deverá terminar junto à Representação da Comissão Europeia em Portugal, no Largo Jean Monnet.
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“As manifestações a que temos assistido contra a troika levam muitas pessoas para a rua, que, se calhar, não estão informadas”, explicou a bancária de 50 anos. “Sentimos todos [as medidas de austeridade], mas acredito naquilo que me dizem: é absolutamente necessário aquilo que está a ser feito (…) Se todos aceitassem estas medidas, pensando que é um sacrifício que estão a fazer, se calhar muita coisa já podia estar resolvida”, acrescentou.
Para a manifestação desta tarde foram contactadas 400 pessoas, sobretudo via SMS e através da mensagem boca a boca.
A acção deverá terminar junto à Representação da Comissão Europeia em Portugal, no Largo Jean Monnet.
Como é que o Portas sabe que os mais pobres não se manifestaram
Portas diz que os mais pobres não se manifestaram (in DN). Como é que ele sabe?
Não vou repetir esta pergunta "de como é que ele sabe?" para não fazer figura de parvo, como adiante se verá.
Embora sabendo as terríveis consequências do meu acto insensato, decidi levar o cão (o Chaplin) ao jardim que dista de minha casa uns 100 a 200 metros. Sentei-me na esplanada do café e deixei que manifestasse em toda a liberdade o seu gosto pela corrida e pela descoberta de um mundo sempre igual. E ele lá foi. Uns minutos depois, como é seu hábito, veio a correr postar-se do meu lado esquerdo. Do outro lado, uns jovens, que frequentavam seguramente a escola secundária vizinha (Antº Sérgio), perguntaram se podiam fazer-lhe festas, se mordia. Respondi-lhes prontamente que não, que não mordia a não ser que fossem alunos indisciplinados nas aulas e tivessem fracas notas. Neste caso, iriam para casa sem, pelo menos, uma das mãos. Era vê-los a retirar as mãos como se as tivessem pousado numa grelha de assar sardinhas. O cão rosnou só para dizer que também tem sentimentos: "que é isso de me fazerem festas e retirarem as mãos como se fosse leproso ou tivesse sido atacado pela peste?"
A senhora que se sentava na mesa ao lado da minha, pela farpela e pela curiosidade certamente professora, perguntou: "como é que ele sabe que eles são maus alunos?" Estive vai não vai para lhe responder "como haveria ele de não saber?". Mas fiquei por uma resposta ambígua: "para explicar uma coisa dessas preciso do tempo todo de uma reunião de departamento curricular". Fez-se silêncio sepulcral. Como apesar de tudo também tenho sentimentos, acabei por acrescentar: "não sei o que se passa na cabeça do cão, mas o certo é que foram eles que se denunciaram." "Eu sei, reparei nisso, mas como é que ele soube?"
As dores estavam a voltar e eu já sabia que ia precisar de uma ou duas horas de completo repouso. O Chaplin também já dava sinais de estar a perceber o contexto e voltamos a casa, eu para me estender num ninho de almofadas, ele para tomar conta de mim, como se esse fosse o seu destino.
Pelo caminho, enquanto me arrependia sem grande convicção, dado o episódio dos maus alunos, desta curta, mas arriscada viagem, ia pensando naquele dia em que o Chaplin se deu ao trabalho de ir cheirar umas calças pendentes no rabo de um dos alunos da escola. Cheirou e não rosnou. Espirrou, para aliviar as narinas do cheiro. E o rapaz deu um salto, como se lhe tivessem puxado as ditas pendentes. O Chaplin pôs a sua cara de anjo e, virando-se para mim, explicou-se como podia: "esta era a moda nas prisões americanas: aqueles que não se importassem de ser sodomizados usavam as calças deste modo. Que queres que faça disto? Era um aviso a toda a população prisioneira, um aviso sem palavras e sem reclamações, como convinha na situação." Tomei nota. Já mais complicado foi o caso em que o cheiro das calças pendentes se misturou com o cheiro a restos de coisas para comer, ou outra coisa qualquer. Aí, ele ladrou mesmo. "Que lata a destes palermas de juntarem migalhas e até uma daquelas máquinas que apita e fala com umas calças daquelas?" Rosnou, ladrou e não pediu desculpa.
Pior foi o dia em que uma mosca, entrada pela janela, decidiu postar-se em frente ao focinho do cão. O Chaplin cheirou-a como é de sua obrigação, e a palerma levantou voo. O bicho abocanhou-a em menos de um segundo. Espirrou mas ela não saiu. E foi com os beiços num trejeito de nojo que a mastigou e comeu. Tenho que o ensinar a cuspir. Afinal, não é assim tão diferente de espirrar, e talvez, assim, aguente melhor as contrariedades da vida.
MAS COMO É QUE ELE SABE?
Não vou repetir esta pergunta "de como é que ele sabe?" para não fazer figura de parvo, como adiante se verá.
Embora sabendo as terríveis consequências do meu acto insensato, decidi levar o cão (o Chaplin) ao jardim que dista de minha casa uns 100 a 200 metros. Sentei-me na esplanada do café e deixei que manifestasse em toda a liberdade o seu gosto pela corrida e pela descoberta de um mundo sempre igual. E ele lá foi. Uns minutos depois, como é seu hábito, veio a correr postar-se do meu lado esquerdo. Do outro lado, uns jovens, que frequentavam seguramente a escola secundária vizinha (Antº Sérgio), perguntaram se podiam fazer-lhe festas, se mordia. Respondi-lhes prontamente que não, que não mordia a não ser que fossem alunos indisciplinados nas aulas e tivessem fracas notas. Neste caso, iriam para casa sem, pelo menos, uma das mãos. Era vê-los a retirar as mãos como se as tivessem pousado numa grelha de assar sardinhas. O cão rosnou só para dizer que também tem sentimentos: "que é isso de me fazerem festas e retirarem as mãos como se fosse leproso ou tivesse sido atacado pela peste?"
A senhora que se sentava na mesa ao lado da minha, pela farpela e pela curiosidade certamente professora, perguntou: "como é que ele sabe que eles são maus alunos?" Estive vai não vai para lhe responder "como haveria ele de não saber?". Mas fiquei por uma resposta ambígua: "para explicar uma coisa dessas preciso do tempo todo de uma reunião de departamento curricular". Fez-se silêncio sepulcral. Como apesar de tudo também tenho sentimentos, acabei por acrescentar: "não sei o que se passa na cabeça do cão, mas o certo é que foram eles que se denunciaram." "Eu sei, reparei nisso, mas como é que ele soube?"
As dores estavam a voltar e eu já sabia que ia precisar de uma ou duas horas de completo repouso. O Chaplin também já dava sinais de estar a perceber o contexto e voltamos a casa, eu para me estender num ninho de almofadas, ele para tomar conta de mim, como se esse fosse o seu destino.
Pelo caminho, enquanto me arrependia sem grande convicção, dado o episódio dos maus alunos, desta curta, mas arriscada viagem, ia pensando naquele dia em que o Chaplin se deu ao trabalho de ir cheirar umas calças pendentes no rabo de um dos alunos da escola. Cheirou e não rosnou. Espirrou, para aliviar as narinas do cheiro. E o rapaz deu um salto, como se lhe tivessem puxado as ditas pendentes. O Chaplin pôs a sua cara de anjo e, virando-se para mim, explicou-se como podia: "esta era a moda nas prisões americanas: aqueles que não se importassem de ser sodomizados usavam as calças deste modo. Que queres que faça disto? Era um aviso a toda a população prisioneira, um aviso sem palavras e sem reclamações, como convinha na situação." Tomei nota. Já mais complicado foi o caso em que o cheiro das calças pendentes se misturou com o cheiro a restos de coisas para comer, ou outra coisa qualquer. Aí, ele ladrou mesmo. "Que lata a destes palermas de juntarem migalhas e até uma daquelas máquinas que apita e fala com umas calças daquelas?" Rosnou, ladrou e não pediu desculpa.
Pior foi o dia em que uma mosca, entrada pela janela, decidiu postar-se em frente ao focinho do cão. O Chaplin cheirou-a como é de sua obrigação, e a palerma levantou voo. O bicho abocanhou-a em menos de um segundo. Espirrou mas ela não saiu. E foi com os beiços num trejeito de nojo que a mastigou e comeu. Tenho que o ensinar a cuspir. Afinal, não é assim tão diferente de espirrar, e talvez, assim, aguente melhor as contrariedades da vida.
MAS COMO É QUE ELE SABE?
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
É Só um Parecer
O 'Parecer' de Ricardo Araújo Pereira sobre o 'Orçamento do Estado' para 2014:
[publicado na Revista 'Visão']
Caro Sr. primeiro-ministro,
O conjunto de medidas que me enviou para apreciação parece-me extraordinário.
Confiscar as pensões dos idosos é muito inteligente. Em 2015, ano das próximas eleições legislativas, muitos velhotes já não estarão cá para votar. Tem-se observado que uma coisa que os idosos fazem muito é falecer. É uma espécie de passatempo, competindo em popularidade com o dominó. E, se lhes cortarmos na pensão, essa tendência agrava-se bastante. Ora, gente defunta não penaliza o governo nas urnas. Essa tem sido uma vantagem da democracia bastante descurada por vários governos, mas não pelo seu.
Por outro lado, mesmo que cheguem vivos às eleições, há uma probabilidade forte de os velhotes não se lembrarem de quem lhes cortou o dinheiro da reforma. O grande problema das sociedades modernas são os velhos. Trabalham pouco e gastam demais. Entregam-se a um consumo desenfreado, sobretudo no que toca a drogas. São compradas na farmácia, mas não deixam de ser drogas. A culpa é da medicina, que lhes prolonga a vida muito para além da data da reforma. Chegam a passar dois ou três anos repimpados a desfrutar das suas pensões. A esperança de vida destrói a nossa esperança numa boa vida, uma vez que o dinheiro gasto em pensões poderia estar a ser aplicado onde realmente interessa, como os swaps, as PPP e o BPN.
Se me permite, gostaria de acrescentar algumas ideias para ajudar a minimizar o efeito negativo dos velhos na sociedade portuguesa:
1. Aumento da idade de reforma para os 85 anos. Os contestatários do costume dirão que se trata de uma barbaridade, e que acrescentar 20 anos à idade da reforma é muito. Perguntem aos próprios velhos. Estão sempre a queixar-se de que a vida passa a correr e que 20 anos não são nada. É verdade: 20 anos não são nada. Respeitemos a opinião dos idosos, pois é neles que está a sabedoria.
2. Exportação dos velhos. O velho português é típico e pitoresco. Bem promovido, pode ter aceitação lá fora, quer para fazer pequenos trabalhos, quer apenas para enfeitar um alpendre, um jardim.
3. Convencer a artista Joana Vasconcelos a assinar 2.500 velhos e pô-los em exposição no MoMa de Nova Iorque.
Creio que são propostas valiosas para o melhoramento da sociedade portuguesa, mantendo o espírito humanista que tem norteado as suas políticas.
Cordialmente
[publicado na Revista 'Visão']
Caro Sr. primeiro-ministro,
O conjunto de medidas que me enviou para apreciação parece-me extraordinário.
Confiscar as pensões dos idosos é muito inteligente. Em 2015, ano das próximas eleições legislativas, muitos velhotes já não estarão cá para votar. Tem-se observado que uma coisa que os idosos fazem muito é falecer. É uma espécie de passatempo, competindo em popularidade com o dominó. E, se lhes cortarmos na pensão, essa tendência agrava-se bastante. Ora, gente defunta não penaliza o governo nas urnas. Essa tem sido uma vantagem da democracia bastante descurada por vários governos, mas não pelo seu.
Por outro lado, mesmo que cheguem vivos às eleições, há uma probabilidade forte de os velhotes não se lembrarem de quem lhes cortou o dinheiro da reforma. O grande problema das sociedades modernas são os velhos. Trabalham pouco e gastam demais. Entregam-se a um consumo desenfreado, sobretudo no que toca a drogas. São compradas na farmácia, mas não deixam de ser drogas. A culpa é da medicina, que lhes prolonga a vida muito para além da data da reforma. Chegam a passar dois ou três anos repimpados a desfrutar das suas pensões. A esperança de vida destrói a nossa esperança numa boa vida, uma vez que o dinheiro gasto em pensões poderia estar a ser aplicado onde realmente interessa, como os swaps, as PPP e o BPN.
Se me permite, gostaria de acrescentar algumas ideias para ajudar a minimizar o efeito negativo dos velhos na sociedade portuguesa:
1. Aumento da idade de reforma para os 85 anos. Os contestatários do costume dirão que se trata de uma barbaridade, e que acrescentar 20 anos à idade da reforma é muito. Perguntem aos próprios velhos. Estão sempre a queixar-se de que a vida passa a correr e que 20 anos não são nada. É verdade: 20 anos não são nada. Respeitemos a opinião dos idosos, pois é neles que está a sabedoria.
2. Exportação dos velhos. O velho português é típico e pitoresco. Bem promovido, pode ter aceitação lá fora, quer para fazer pequenos trabalhos, quer apenas para enfeitar um alpendre, um jardim.
3. Convencer a artista Joana Vasconcelos a assinar 2.500 velhos e pô-los em exposição no MoMa de Nova Iorque.
Creio que são propostas valiosas para o melhoramento da sociedade portuguesa, mantendo o espírito humanista que tem norteado as suas políticas.
Cordialmente
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Finalmente, já podemos dormir descansados
Espécies de homens primitivos afinal foram só uma, afirmam cientistas
Análise de cinco crânios com 1,8 milhões de anos encontrados no Cáucaso sugere que os primeiros homens primitivos que saíram de África pertenciam todos a uma única espécie. Ideia ainda controversa.
E se em vez de serem todos de espécies diferentes, os diversos homens primitivos cujos fósseis têm sido encontrados ao longo dos anos em diversos locais — Homo habilis, Homo rudolfensins, Homo erectus e outros — fossem todos membros de uma única e mesma espécie de humanos e as suas diferenças físicas apenas reflectissem a normal variabilidade entre indivíduos dessa espécie? Os autores de um novo estudo comparativo de crânios fósseis humanos encontrados no Cáucaso, e publicado esta sexta-feira na revista Science, afirmam que é precisamente isso que os seus resultados sugerem.
A peça-chave do trabalho desenvolvido nos últimos oito anos por David Lordkipanidze, director do Museu Nacional da Geórgia, e uma equipa internacional de colegas, é um crânio — designado Crânio 5 — com quase 1,8 milhões de anos. O seu maxilar inferior foi encontrado em 2000 na escavação arqueológica de Dmanisi (a uns 100 quilómetros de Tbilisi, a capital da Geórgia) — e o resto do seu rosto e cabeça em 2005.
“O Crânio 5 é um achado extraordinário”, explicou em conferência de imprensa telefónica a co-autora Marcia Ponce de León, da Universidade de Zurique (Suíça). “É o crânio fóssil mais completo de sempre de um adulto do género Homo. Encontra-se num estado de conservação perfeito (...) e [a segunda peça] foi encontrada cinco anos depois do maxilar a menos de dois metros de distância [da primeira].”
Acontece que o Crânio 5 não era de todo o que os cientistas esperavam, visto o carácter maciço do maxilar previamente desenterrado. Estavam à espera de um crânio de grande tamanho, mas depararam-se, pelo contrário, com uma caixa craniana pequena por cima de um grande rosto, numa combinação de traços morfológicos nunca antes observada num homem primitivo.
Crânio 5 e irmãos
Também em Dmanisi foram encontrados, ao longo dos anos, mais quatro crânios (apenas um sem maxilar inferior), algumas ferramentas de pedra e ossos fossilizados de animais — achados que, segundo estudos anteriores, são vestígios deixados por um grupo de humanos que viveu no mesmo sítio ao mesmo tempo. “O tempo que demorou a formação geológica do local foi bastante breve, o que permite concluir que a sedimentação de todos os ossos [de homens primitivos] aconteceu em simultâneo”, explicou Lordkipanidze. “Dmanisi é como uma cápsula do tempo que preservou um ecossistema de há 1,8 milhões de anos.”
Os crânios de Dmanisi permitem realizar análises comparativas que até aqui não eram possíveis. E de facto, perante a descoberta do resto do Crânio 5 e da sua inédita anatomia, tornou-se necessário explicar as diferenças físicas patentes entre os cinco crânios humanos daquele sítio paleontológico, que fazem com que alguns deles sejam mais bem classificados como Homo habilis e outros como Homo erectus. Poderiam estes homens primitivos, que ao que tudo indica faziam parte da mesma comunidade, ter pertencido a várias espécies diferentes de humanos? “Sabíamos que vieram do mesmo local e do mesmo período geológico; podiam portanto representar uma única população de uma única espécie”, salientou Christoph Zollikofer, um outro co-autor, também da Universidade de Zurique.
Para determinar qual destas duas possibilidades — uma ou várias espécies — era a mais provável e, em particular, se era possível que o nível de variação observado naqueles fósseis se verificasse no seio de uma única espécie, os cientistas recorreram a métodos de morfometria 3D computadorizada. Por outro lado, para garantirem a compatibilidade dos novos resultados com estudos comparativos anteriores, também aplicaram métodos mais tradicionais de comparação de características morfológicas.
Diferentes mas iguais
Conclusão: “A nossa análise estatística mostra que os padrões e a magnitude da variabilidade dos crânios de Dmanisi são semelhantes aos das populações de espécies modernas”, disse Zollikofer. “Embora os cinco indivíduos de Dmanisi sejam claramente diferentes uns dos outros, não são mais diferentes entre eles do que cinco humanos modernos ou cinco chimpanzés numa dada população.” Ou seja, “a diversidade no interior de uma espécie é a regra e não a excepção”. Os cientistas decidiram designar essa potencial única espécie pelo nome Homo erectus, por ser a mais bem documentada e consensual de todas as espécies de homens primitivos cujos fósseis se conhecem.
Os novos resultados poderão ter implicações em termos da classificação das espécies de hominídeos que viviam em África e saíram de lá há cerca de dois milhões de anos, espalhando-se pela Europa e a Ásia fora, especulam os cientistas. “Há duas maneiras de interpretar a diversidade dos hominídeos fósseis”, explicou Zollikofer. “A primeira é que apenas existiu uma linhagem de homens primitivos; a segunda é que houve múltiplas linhagens coexistentes.”
“Se a caixa craniana e a face do Crânio 5 tivessem sido encontradas separadamente em locais diferentes de África, poderiam ter sido atribuídas a duas espécies diferentes”, acrescentou. Mas visto que os fósseis de Dmanisi provêm indubitavelmente do mesmo ponto no tempo e no espaço — e que parecem ter todos pertencido a uma única espécie de homens primitivos —, o mesmo poderá ter acontecido em África.
A conclusão não convence toda a gente. Enquanto um paleontólogo citado num artigo jornalístico (também publicado na Science, da autoria de Ann Gibbons) recusa liminarmente a ideia de que todos os fósseis africanos possam ter sido Homo erectus, um outro é da opinião que o Crânio 5 parece um Homo habilis. E um terceiro faz notar que a ideia está fazer o efeito de uma pequena bomba na comunidade dos especialistas.
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