quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Educação do Ministro das Finanças

Este título também poderia ser "As Finanças do Ministro da Educação" ou "A Saúde do Ministro das Finanças" ou "As Finanças do Ministro da Saúde"... etc. Mas não, agora o tema é mesmo a educação do ministro das finanças, pelo menos este é o título que escolho, mesmo que o resto seja a sua negação.
Diz, então, o ministro das Finanças que a sua educação custou "imenso" dinheiro ao Estado português; e diz imenso porque o adjetivo que pode qualificar o dinheiro (ou o seu cheiro), para o minstro dele, só pode ser "enorme", "colossal", "imenso" ou algum sinónimo. Compreende-se. Ele próprio se deve achar enorme, colossal ou imenso. Esse imenso dinheiro que custou a sua educação tem agora de ser devolvido ao Estado, e tenciona fazê-lo exercendo as funções de ministro, justamente, das finanças. Por outras palavras, está disposto a pagar o que deve, mas só em géneros, não em espécie. Afinal, segundo ele, quem não tenha dinheiro para pagar o jantar, pode pagá-lo lavando os pratos. O problema é que deveria ser feito um estudo rigoroso para se apurar aquele ou aquela, cuja educação tenha custado a quantia mais imensa de dinheiro ao Estado. Esse, sim, deveria ser o primeiro a lavar os pratos da Nação, por outras palavras, deveria ser o ministro das Finanças do país. Não se garantiria o mais competente, nem o mais trabalhador, mas garantir-se-ia, seguramente, um limiar de justiça bastante aceitável, a acreditar no humilde ministro atual das Finanças.
Não se sabe, entretanto, se é a sabedoria que lhe vem da sua imensamente cara educação que fundamenta a sua crença sobre a inexistência de outra alternativa ao seu programa de impostos, ou se é numa postura metafísica, mais consentânea com o pagamento da sua dívida, que ela se baseia. É que se não há outra alternativa, então esta (uma) também não é, porque não há uma sem outra. E isto é preocupante, porque, não sendo eu um analista, ficarei na dúvida sobre se a forma é ou não mais importante do que o conteúdo. Na verdade, o ministro, dizendo que não há outra alternativa, está, por razões puramente formais, a confirmar convictamente aquilo que outros, por razões de conteúdo, têm criticado. O programa de impostos que ele propõe não é alternativa, e, diria eu, mesmo que não conhecesse o teor desse programa, que não é alternativa, porque justamente se fundamenta na inexistência de alternativas.
Ou será simplesmente uma manifestação da imensamente cara educação que recebeu aquilo que justifica esta crença estranha do ministro - a de que existem alternativas únicas? Tal como aquele universitário, cuja educação é seguramente mais barata do que a do ministro, que, numa entrevista reproduzida num programa de televisão, garantia que as mulheres correm muito mais riscos de engravidar do que os homens.
Ora, esta questão, mesmo para quem se tenha sentido "enrolado" na formulação analítica dos parágrafos anteriores, é uma das mais importantes no domínio da política. Aqueles políticos que entendem que não há alternativa para as suas opções políticas, não só dizem uma barbaridade formal, como ainda se comportam de forma politicamente condenável, por não se enxergarem nos seus limites e, por isso mesmo, não serem capazes de enxergar o que quer que seja. Sendo cegos, ousam orientar os outros nas sendas pouco claras que escolhem para si mesmos. Afinal, a cegueira tem a vantagem de dispensar a luz, mas a desvantagem de não sentir necessidade dela.


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