segunda-feira, 5 de maio de 2008

O CINISMO DO MERCADO E OS BANCOS ALIMENTARES CONTRA A FOME


Quando o povo perde poder compra há mais do que uma coisa a acontecer: há gente a passar fome e há comerciantes a ganhar menos. Quando há comerciantes a ganhar menos, há mais do que uma coisa a acontecer: há aumento do desemprego e o povo perde poder de compra.
Para compensar este círculo vicioso, há empresários a ganhar cada vez mais.
Acordam, mal dormidas, as boas vontades, levantam-se, trôpegas, as boas intenções e ressurgem, vigilantes, os movimentos de luta contra a fome.
Pedem-se hiper-esmolas à porta dos hipermercados. Todos os hiper são um monte de coisas poucas, e as esmolas não são excepção.
Mata-se alguma fome, quase nada;
Aumenta-se o consumo, porque não há meio de dar esmolas aos outros, num hiper qualquer, sem nos darmos esmolas a nós mesmos. Não baixam os preços por isso. Alguns aumentam mesmo, porque, como por milagre, num princípio de mês, ainda com dinheiro fresco, o povo pobre é convidado, cinicamente, a esquecer as suas dificuldades e a gastar, em nome do seu bom coração.
Os hipermercados não dão nada. Vendem. E dão os restos, se não lhes der lucro recuperá-los.
O dia da mãe, o dia do pai, o dia dos namorados, o dia das bruxas, o dia de Natal e também o dia de luta contra a fome são um balão de oxigénio para os únicos que não perdem nada com a inflacção e com a fome.
Até a fome se transformou num bem, neste maravilhoso mercado. Um bem tão importante para o comércio como a produção de postais para as mães e poemas parvos para os namorados.

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