Dominique Cerruti (Director-Geral da bolsa NYSE Euronext) afirma que "cerca de 90% das transacções nos mercados de futuros e derivados, que representam (...) 10 vezes mais que o PIB mundial, são opacas, ou seja, não são reguladas". (L'Observateur, Maio de 2009).
Por outras palavras, os especuladores de derivados atacam a dívida soberana, a moeda e o mercado de matérias primas, que são transaccionados nos mercados de futuros. O vendedor compromete-se a entregar ao comprador um activo, em quantidade pré-determinada, numa data futura e a um preço pré-acordado, tendo o comprador que pagar a quantia estabelecida. Nada é oficial, tudo é virtual. O comprador pode, depois, vender o que ainda não tem, mas que poderia ter, se fosse altura disso. Conta a história que Tales de Mileto terá feito algo semelhante com a produção de azeite da sua cidade, confiando nas suas previsões meteorológicas que prediziam um bom ano para a produção de azeitonas. Só que ele negociou com coisas e no curto prazo. O mesmo faziam e fazem, suponho, alguns comerciantes que compram a produção de árvores de fruto, na altura da floração. Também eles compram coisas, com base numa estimativa razoável. Pelo contrário, o mercado de transacções financeiras é isso mesmo, um mercado de troca de dinheiro, não de coisas. Esse mercado já valia, em 2009, 10 vezes mais do que a riqueza mundial efectivamente produzida, a acreditar em Dominique Cerruti.
Esperemos que não, mas um dia poderá acontecer que se culpem os desgraçados de todo o mundo por estarem a viver acima das suas possibilidades.
As empresas de rating desempenham um papel crucial neste negócio de nada por nada que dá muito dinheiro a uns e o tira necessariamente a outros.
Os investidores abandonaram o mercado accionista (que estava a criar problemas) e dedicaram-se à compra de título de rendimento fixo (títulos de dívida). Esta tendência parece que vai manter-se nos próximos anos. As empresas de rating começaram a ter lucros com a crise das dívidas soberanas, que passaram a fazer parte da cobiça dos investidores.
A McGraw-Hill (sim, essa mesma, a editora de manuais de grande qualidade científica, embora muito conservadores - do ponto de vista científico, claro), principal detentora da Standard & Poors, registou lucros anuais (em 2009) acima do previsto, depois de um aumento de 17% de receitas nos departamentos que analisam as contas públicas dos Estados. No mesmo ano, a Moody's informa que os lucros subiram 15%, uma evolução que atribui à forte procura de ratings de dívidas.
Em Março de 2011, o FMI alertou para o facto de os cortes de rating terem "um efeito de, contágio, do ponto de vista estatístico e económico, entre países e mercados financeiros, o que significa que os anúncios das agêncioas podem induzir a instabilidade financeira". (in Público, 26-06-2011)
Fiquemos com as palavras da MacGraw-Hill, dona da S&P: "O recorde no volume em dólares na emissão de dívida empresarial, o aumento de ratings de empréstimos bancários e o mercado das finanças públicas produziram um aumento das receitas do grupo que, em 2010, lucrou 612 milhões de euros."
Há quem esteja a ganhar com a crise: as empresas de rating. O Congresso dos Estados Unidos já colocou a Moody's, a S&P e a Fitch entre os principais culpados pela crise financeira que afecta a vida de milhões de pessoas (in Público, 26-06-2011). Mas que lhes importa isso? Se a crise lhes traz cada vez mais lucro?
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