Um programa, tal como o que propôs nesse comício, agrada, por instinto, a um grande número de professores que conheço. Por instinto, muitos professores, como muitas pessoas mal informadas ou que não têm acesso à informação, são conservadores e reaccionários a qualquer mudança qualitativa.
Nesse discurso, o actual ministro propõe 5 medidas:
- Exames aos alunos;
- Privilegiar o conteúdo, nos programas, em detrimento da forma e dos procedimentos;
- Avaliar e valorizar os professores;
- Exames de ingresso na carreira docente, como forma de disciplinar a formação de professores nas Escolas Superiores;
- "Acabar com o Ministério da Educação" e fazer dele um "Ministério pela Educação".
Segundo ele, esta medida:
- Resultará de:
- Definição de "objectivos pedagógicos", o que, para ele, corresponde a uma valorização de conteúdos, em detrimento dos procedimentoas;
- Estandardização de objectivos.
- Implicará:
- Encomenda de exames a um serviço externo ao Ministério da Educação;
- Extinção do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE);
- Elaboração de exames comparáveis entre si, ao longo dos anos.
- Promoverá:
- A avaliação do sistema;
- O fim da utilização dos resultados dos alunos como arma política;
- A avaliação dos professores e a sua valorização, a partir dos resultados obtidos pelos seus alunos;
- A inutilidade de um "Ministério da Educação" e a utilidade de um "Ministério pela Educação".
O que parece relevante é que, para o actual ministro da educação, Nuno Crato, a avaliação dos alunos, através de exames nacionais, é a trave mestra de todo o programa de governação. Para quem critica as concepções pedagógicas que centram a aprendizagem no aluno (deveria, às tantas, estar centrada nas paredes da sala, sendo suposto que não é o professor que está na aula para aprender), é curioso que veja nos exames nacionais a solução estrutural para todos os problemas da educação:
Através desses exames, será possível:
- Avaliar os professores e melhorar, por via disso, o ensino;
- Definir, sem os enunciar nos programas, os conteúdos programáticos;
- Desvalorizar os procedimentos das escolas e dos professores, face aos resultados obtidos;
- Redifinir o papel do Ministério da Educação:
- Gerir o parque escolar
- Cuidar dos salários
- Encomendar exames
- Pagar a quem faça os exames
- Deixar as escolas trabalhar
Para além disto, que já não é pouco, e sem entrar em pormenores, para mim, o seu programa de governação, enunciado nesse discurso, coloca-nos perante um político que mostra:
- Um desconhecimento impressionante dos programas das várias disciplinas do ensino não superior. Pode não concordar com o facto de eles conterem orientações procedimentais, mas não pode dizer que pecam por falta de conteúdo. Aquilo que eles mais pormenorizam e aquilo em que eles são mais directivos é precisamente nos conteúdos.
- Que confunde objectivos estandardizados com conteúdos programáticos. Por outras palavras, criticando a tendência do ministério para estabelecer procedimentos, o actual ministro estabelece um procedimento (definir objectivos estandardizados) que dispensa todos os outros. Por outro lado, é legítimo que defenda a substituição dos programas por um menu de objectivos estandardizados, mas não é legítimo afirmar que, deste modo, se substituem recomendações procedimentais por conteúdos.
- Uma opinião sobre a relação entre competências e conhecimento científico nas fronteiras do mais absoluto absurdo. Segundo ele, o "ensino de competências desvaloriza o conhecimento científico" (fale por ele...). Na verdade confunde perigosamente a dificuldade enorme em ensinar competências, ou até a sua impossibilidade, com a necessidade de as desenvolver e avaliar.
Já o tinha ouvido, numa entrevista a um canal televisivo, a confundir a noção de construtivismo, associada ao relativismo cultural, com o construtivismo de Piaget que corresponde, este, a uma teoria epistemológica do conhecimento científico, que em nada, mas em nada mesmo, se assemelha ao relativismo construtivista e culturalista.
Critica Dewey por ser antigo e restaura o pensamento teórico mentalista de Herbart (o grande teórico da valorização dos conteúdos) que ainda é mais antigo.
Este ministro critica o eduquês dos outros, porque acha que o seu eduquês é melhor. E agora vai dedicar-se ao politiquês.
Se fizer aquilo que promete que é, basicamente nada, então podemos estar descansados: não só será considerado como um dos melhores ministros da Educação que alguma vez Portugal teve, por toda essa gente que gosta de opinar sobre educação do ponto de vista de quem não sabe o que isso é, como terá o apoio de muitos professores que só querem que não os chateiem.
Trocamos uma ministra com ideias erradas e prioridades trocadas, por uma outra sem ideias, e esta por um outro, ele, errado, com ideias inconsequentes e a raiar o absurdo.
Ouçam o discurso:
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