segunda-feira, 8 de julho de 2013

Lições da História e de Bom Senso


A história das crises financeiras sugere três lições, afirma-nos Michael Pettis.

1- Os países que enfrentam uma crise de solvência bem real, em regra, levam muito tempo a admitir que não podem pagar a dívida soberana. O estado de negação dura sempre muito tempo. Infelizmente, quanto mais adiam esse reconhecimento, maior os danos que provocam na economia real e no capital humano, e mais dolorosa a reestruturação dessa dívida se torna no final. A razão do adiamento é a ilusão de que apenas sofrem de uma crise temporária de liquidez, e não de uma crise de solvência. Acham que conseguirão manter a rolar a dívida, até que a economia fique melhor e o crescimento depois ajude a pagá-la. Ora, isso quase nunca acontece.
2- Os países que enfrentam uma crise de dívida soberana raramente são capazes de sair dela pelo seu próprio pé. Enquanto Portugal sofrer de um sobreendividamento, a economia portuguesa não conseguirá crescer. Isso acontece porque esse excesso de dívida obriga as empresas, os trabalhadores, os aforradores da classe média a desalavancar e os líderes políticos a envolverem-se numa armadilha, de ajustamento, maus resultados, mais ajustamento, mais empréstimos, mais carga de dívida, mais recessão, mais deflação. Por isso, nenhum país que enfrenta uma crise de dívida foi capaz de retomar o crescimento, antes que a dívida seja reestruturada e parcialmente perdoada. Ora é preferível fazê-lo logo no início, como o Fundo Monetário Internacional reconheceu, recentemente, em relação à gestão da crise grega desde 2010.
3- O debate num país que sofre de uma crise da dívida é sempre um confronto entre os que produzem na economia real e os banqueiros que vivem da economia financeira. Os que produzem querem rapidamente mexer na dívida, desvalorizar a moeda e voltar à normalidade dos negócios. Os banqueiros, por seu lado, sempre argumentam que o país deve comportar-se de forma "responsável", o que significa proteger os credores mais poderosos e estrangeiros, que tenham emprestado o capital. Numa crise da dívida soberana, os interesses dos que produzem e os dos banqueiros são diametralmente opostos. É preciso ter isso em conta na gestão da crise.

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