sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Quem Diria?



Starbucks s'est associé à Square pour proposer à ses clients de régler leurs achats par l'intermédiaire du portefeuille électronique "Square Wallet". AFP/CHRIS HONDROS

Pour Amazon, Google ou Starbucks l'impôt n'a pas de frontières

Blog : Pertes et Profits

Y a un truc! On ne peut s'empêcher d'avoir ce réflexe dubitatif, lorsque, bluffé par un tour de passe-passe, abusé par ce que nos yeux n'ont pas pu détecter, on tente de remettre un peu de rationnel dans une réalité qui nous dépasse. Starbucks, Amazon ou Google sont des entreprises admirées pour leur capacité à dégager des bénéfices, mais leur habileté ne s'arrête pas là. Leur "truc" à elles s'appelle l'optimisation fiscale. Gagner le maximum dans un endroit donné, tout en payant le minimum d'impôts. Trop fort!
Ce petit manège agace de plus en plus les Etats, qui, asphyxiés par la dette, cherchent légitimement à récupérer leur dû. Une commission parlementaire britannique a ainsi réclamé, lundi 12 novembre, à ces trois multinationales américaines de lui révéler le dessous des cartes.
Par exemple, comment fait Starbucks pour continuer à s'évertuer à perdre de l'argent au Royaume-Uni? Treize ans que cela dure, et malgré tout, la chaîne de café s'entête à y investir. "Soit vous gérer mal l'entreprise, soit il y a un truc", s'est énervé un parlementaire britannique. "Nous n'avons gagné de l'argent qu'en 2006", s'est presque excusé le directeur financier de Starbucks, Troy Alstead. En fait, tout l'art de la magie consiste à s'adapter à son public. Car en 2009, la direction assurait la main sur le coeur aux analystes financiers que la filiale britannique gagnait de l'argent. Sans doute un excès de naïveté de leur part. Ou bien avaient-ils oublié de prendre en compte les "faux frais" de Starbucks dans ce pays. Ainsi, 6% du chiffre d'affaires doit être reversé à la filiale néerlandaise au titre de "l'usage de la marque". Sans compter la société interne de courtage, basée en Suisse, qui revend le café à Starbucks au Royaume-Uni en prenant au passage une marge de 20%. Une fois passés au percolateur de l'optimisation fiscale, on comprend que les bénéfices s'évaporent vers des contrées plus accueillantes en matière fiscale.
Chez Amazon, le "truc", c'est le Luxembourg. Les clients britanniques du libraire en ligne n'achètent pas leurs livres au pays de Shakespeare, mais auprès d'une société logée au Grand-duché. Le contribuable anglais n'a plus qu'à tourner la page. Le fisc français, lui, s'y refuse et réclame 252 millions de dollars d'arriérés d'impôts à Amazon. Pour Google, c'est l'Irlande, où le climat fiscal est des plus cléments, tout en disposant d'un siège aux Bermudes. On est jamais trop prudent avec la météo.
"Nous ne faisons rien d'illégal", clament en coeur ces multinationales, dont la liste n'est pas exhaustive. C'est bien le problème. Il ne tient qu'aux Etats de mettre fin à la prestidigitation.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O Banqueiro Anarquista de Fernando Pessoa


O que eu quero dizer é que entre as minhas teorias e a prática da minha vida não há divergência nenhuma, mas uma conformidade absoluta. Lá que não tenho uma vida como a dos tipo dos sindicatos e das bombas - isso é verdade. Mas é a vida deles que está fora do anarquismo, fora dos ideais deles. A minha não. Em mim - sim, em mim, banqueiro, grande comerciante, açambarcador se V. quiser -, em mim a teoria e a prática do anarquismo estão conjuntas e ambas certas. V. comparou-me a esses parvos dos sindicatos e das bombas para indicar que sou diferente deles. Sou, mas a diferença é esta: eles (sim, eles e não eu) são anarquistas só na teoria; eu sou-o na teoria e na prática. Eles são anarquistas e estúpidos, eu anarquista e inteligente. Isto é, meu velho, eu é que sou o verdadeiro anarquista. Eles - os dos sindicatos e das bombas (eu também lá estive e saí de lá exatamente pelo meu verdadeiro anarquismo) - eles são o lixo do anarquismo, os fêmeas da grande doutrina libertária
(...)
Como podia eu tornar-me superior à força do dinheiro? O processo mais simples era afastar-me da esfera da sua influência, isto é, da civilização; ir para um campo comer raízes e beber água das nascentes; andar nu e viver como animal. Mas isto, mesmo que não houvesse dificuldade em fazê-lo, não era combater uma ficção social; não era mesmo combater: era fugir. Realmente, quem se esquiva a travar um combate não é derrotado nele. Mas moralmente é derrotado, porque não se bateu. O processo tinha que ser outro - um processo de combate e não de fuga. Como subjugar o dinheiro, combatendo-o? Como furtar-me à sua influência e tirania, não evitando o seu encontro? O processo era só um - adquiri-lo, adquiri-lo em quantidades bastante para lhe não sentir a influência; e em quanto mais quantidade o adquirisse, tanto mais livre eu estaria dessa influência. Foi quando vi isto claramente, com toda a força da minha convicção de anarquista, e toda a minha lógica de homem lúcido, que entrei na fase atual - a comercial e bancária, meu amigo - do meu anarquismo.
(..)

- Ora V. lembra-se daquelas duas dificuldades lógicas que eu lhe disse que me haviam surgido no princípio da minha carreira de anarquista consciente?... E V. lembra-se de eu lhe dizer que naquela altura as resolvi artificialmente pelo sentimento e não pela lógica? Isto é, V. mesmo notou e muito bem, que eu não as tinha resolvido pela lógica...
- Lembro-me, sim...
- E V. lembra-se de eu lhe dizer que mais tarde, quando acertei por fim com o verdadeiro processo anarquista, as resolvi então de vez, isto é, pela lógica?
- Sim.
- Ora veja como ficaram resolvidas... As dificuldades eram estas: não é natural trabalhar por qualquer coisa, seja o que for, sem uma compensação natural, isto é, egoísta; e não é natural dar o nosso esforço a qualquer fim sem ter a compensação de saber que esse fim se atinge. As duas dificuldades eram estas; ora repare como ficam resolvidas pelo processo de trabalho anarquista que o meu raciocínio me levou a descobrir como sendo o único verdadeiro... O processo dá em resultado eu enriquecer; portanto, compensação egoísta. O processo visa ao conseguimento da liberdade; ora eu, tornando-me superior à força do dinheiro, isto é, libertando-me dela, consigo liberdade. Consigo liberdade só para mim, é certo; mas é que como já lhe provei, a liberdade para todos só pode vir com a destruição das ficções sociais, pela revolução social. O ponto concreto é este: viso liberdade, consigo liberdade: consigo a liberdade que posso... E veja V.: à parte o raciocínio que determina este processo anarquista como o único verdadeiro, o facto que ele resolve automaticamente as dificuldades lógicas, que se podem opor a qualquer processo anarquista, mais prova que ele é o verdadeiro.
Pois foi este o processo que eu segui. Meti ombros à empresa de subjugar a ficção dinheiro, enriquecendo. Consegui. Levou um certo tempo, porque a luta foi grande, mas consegui. Escuso de lhe contar o que foi e o que tem sido a minha vida comercial e bancária. Podia ser interessante, em certos pontos sobretudo, mas já não pertence ao assunto. Trabalhei, lutei, ganhei dinheiro; trabalhei mais, lutei mais, ganhei mais dinheiro; ganhei muito dinheiro por fim. Não olhei o processo - confesso-lhe, meu amigo, que não olhei o processo; empreguei tudo quanto há - o açambarcamento, o sofisma financeiro, a própria concorrência desleal. O quê?! Eu combatia as ficções sociais, imorais e antinaturais por excelência, e havia de olhar a processos?! Eu trabalhava pela liberdade, e havia de olhar as armas com que combatia a tirania?! O anarquista estúpido, que atira bombas e dá tiros, bem sabe que mata, e bem sabe que as suas doutrinas não incluem a pena de morte. Ataca uma imoralidade com um crime, porque acha que essa imoralidade pede um crime para se destruir. Ele é estúpido quanto ao processo, porque, como já lhe mostrei, esse processo é errado e contraproducente como processo anarquista; agora quanto à moral do processo ele é inteligente. Ora o meu processo estava certo, e eu servia-me legitimamente, como anarquista, de todos os meios para enriquecer. Hoje realizei o meu limitado sonho de anarquista prático e lúcido. Sou livre. Faço o que quero, dentro, é claro, do que é possível fazer. O meu lema de anarquista era a liberdade; pois bem, tenho a liberdade, a liberdade que, por enquanto, na nossa sociedade imperfeita, é possível ter. Quis combater as forças sociais; combati-as, e, o que é mais, venci-as.''
- Alto lá! Alto lá! disse eu. Isso estará tudo muito bem, mas há uma cousa que V. não viu. As condições do seu processo eram, como V. provou, não só criar liberdade, mas também não criar tirania. Ora V. criou tirania V. como açambarcador, como banqueiro, como financeiro sem escrúpulos - V. desculpe, mas V. é que disse -, V. criou tirania. V. criou tanta tirania como qualquer outro representante das ficções sociais, que V. diz que combate.
- Não, meu velho, V. engana-se. Eu não criei tirania. A tirania, que pode ter resultado da minha ação de combate contra as ficções sociais, é uma tirania que não parte de mim, que portanto eu não criei; está nas ficções sociais, eu não ajuntei a elas. Essa tirania é a própria tirania das ficções sociais; e eu não podia, nem me propus, destruir as ficções sociais. Pela centésima vez lhe repito: só a revolução social pode destruir as ficções sociais; antes disso, a ação anarquista perfeita, como a minha, só pode subjugar as ficções sociais, subjugá-las em relação só ao anarquista que põe esse processo em prática, porque esse processo não permite uma mais larga sujeição dessas ficções. Não é de não criar tirania que se trata: é de não criar tirania nova, tirania onde não estava. Os anarquistas, trabalhando em conjunto, influenciando-se uns aos outros como eu lhe disse, criam entre si, fora e à parte das ficções sociais, uma tirania; essa é que é uma tirania nova. Essa, eu não a criei. Não a podia mesmo criar, pelas próprias condições do meu processo. Não, meu amigo; eu só criei liberdade. Libertei um. Libertei-me a mim. É que o meu processo, que é, como lhe provei, o único verdadeiro processo anarquista, me não permitiu libertar mais. O que pude libertar, libertei.


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Com Todo o Respeito

Joseph Ratzinger (Bento XVI) decidiu publicar a sua história da vida de Jesus. Essa história já vai em três volumes. Já li o primeiro volume (é possível obtê-lo gratuitamente no sítio brasileiro www.amormariano.com.br ). Tenho muito respeito e vergo-me sem dificuldade à superioridade intelectual de Joseph Ratzinger, mais do que ao seu actual papel na Igreja católica.
Atrevo-me, no entanto, a criticar a sua tendência para ler as Escrituras em função das suas próprias convicções, com preconceitos, portanto. O caso mais paradigmático relaciona-se com a forma como vê a primeira tentação de Jesus durante o período em que se recolheu no deserto. Jesus estava com fome e o demónio tentou-o de facto de uma forma absolutamente cínica: "Se és filho de Deus, transforma estas pedras em pão". Jesus resistiu à tentação e preferiu manter o seu jejum.
A este propósito, Ratzinger escreve "Se és filho de Deus..." - que desafio. E não se deve dizer o mesmo à Igreja: se queres ser a Igreja de Deus, então preocupa-te em primeiro lugar com o pão para o mundo, o resto virá a seguir. Deste modo, sugere que seria uma tentação do demónio que a Igreja se preocupasse em primeiro lugar com o pão para o mundo. Com efeito, compara a tentação, a que Jesus resistiu, de recorrer a um milagre para matar a sua própria fome, com a tentação de a Igreja se preocupar com o pão do seu povo. Ora, com o devido respeito, não é a mesma coisa. Conforme Ratzinger reconhece, quando se tratou de matar a fome ao povo que o seguia, Jesus não hesitou em fazer a multiplicação dos pães. Interpreta ele esta diferença com a diferença da prioridade da palavra de Deus sobre o pão. Aqueles que seguiam Jesus estavam com fome, mas assumiam como prioridade ouvir a palavra de Deus.
A minha interpretação é outra: Jesus não se deixa tentar pela sua própria fome, mas preocupa-se com a fome do povo. Assim devia ser a Igreja, que não deveria preocupar-se tanto consigo, mas mais com o povo. E aqui não vale dizer que a Igreja é o povo, porque, então, a situação seria ainda muito mais grave: o povo, igual perante Deus, seria tratado pela sua hierarquia como desigual, sendo que uns teriam direito a todo o pão de que necessitam e até àquele de que não necessitam, enquanto a esmagadora maioria precisaria de um milagre para que lhe fosse feita justiça.
Diz Ratzinger e muito bem: Do modo conceptual mais elevado, o marxismo fez disto (da prioridade ao pão) o cerne da sua promessa de salvação: ele cuidaria para que acabasse toda a fome e que o "deserto se tornasse pão". Sem Deus, digo eu. Ora, se a Igreja quiser fazer o mesmo com Deus, não me parece que seja má ideia.
Talvez valha a pena pensar nisto. Não?

Finalmente... Uma Explicação Inteligente (tanto quanto é possível a quem está a ficar burro)


O ser humano está a ficar mais burro

A controversa afirmação foi feita por um geneticista da Universidade de Stanford. Há milhares de anos, o ser humano seria mais inteligente do que é hoje.

Os estudos e argumentos de Crabtree foram publicado em dois jornais especializados e não tardaram a receber reações de outros especialistas. Kevin Mitchell, professor de Genética do Trinity College de Dublin explica que Crabtree não contou com a seleção natural «que é incrivelmente poderosa e que consegue excluir as mutações que afetam negativamente a nossa inteligência», cita a Popular Science.
A investigação de Crabtree mostra que em três mil anos, o ser humano sofreu duas ou mais alterações nos genes do cérebro que o tornam menos inteligente. Este investigador explica que o mesmo acontece com outros sentidos, como o do olfato: o ser humano terá menos capacidade de detetar e reconhecer cheiros do que os nossos antepassados.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O que Interessa é o Impossível


O problema dos nossos políticos é a sua mediocridade. Gastam todos os cartuchos a disparar contra alvos que só respondem ao necessário, ao determinado por forças alienantes. Abominam, por preguiça ou por debilidade de raciocínio, todo o campo das possibilidades. Não sabem fazer design, ou disegno, ou desenho com desígnio (para dizer o mesmo em língua portuguesa). Saberão desenhar cenários, mas não os sabem designar, não sabem atribuir-lhes um desígnio. Ou têm medo de dizer qual é o seu desígnio, porque é vil e eles sabem que é. 
Quando da Vinci inventou o helicóptero, pensou não numa necessidade, mas numa possibilidade, na possibilidade de haver objetos que subissem no ar como as porcas nos parafusos (que ele tinha acabado de inventar). E fez o seu disegno, o seu desenho com desígnio. Cinco séculos depois, foi construído o primeiro helicóptero... em que as pás constroem o parafuso e a porca através do seu movimento no ar. Mas fizeram-no para responder a necessidades e não para desafiar as possibilidades ou o impossível. A possibilidade já tinha sido determinada. Grande coisa fizeram os construtores desse primeiro helicóptero... Em boa verdade, deveriam ser punidos por, em lugar de continuar a explorar o impossível, se terem dedicado a ganhar só por fazerem o óbvio, e necessário.
Os políticos não sabem desenhar com desígnio, mas, pelos vistos, sabem nadar, embora não saibam voar.

Inteligência da Complexidade





"Quando um conhecimento fragmentário e disperso nos torna progressivamente mais cegos aos nossos problemas fundamentais, a inteligência da complexidade converte-se numa necessidade vital para as nossas pessoas, as nossas culturas, as nossas sociedades." (...)
A inteligência da complexidade é "uma inteligência capaz de compreender que o conhecimento isola os objectos uns dos outros, as disciplinas umas das outras, não chega mais longe do que a uma inteligibilidade restrita e mutilada. É uma inteligência apta a ligar uns aos outros dados, informações e conhecimentos separados. É uma inteligência que sabe que a inteligência do real não é um reflexo da realidade, mas uma tradução/reconstrução dessa realidade, a partir de um espírito/cérebro humano." Edgar Morin e Jean-Louis Le Moigne (2007)

A Ilusão da Democracia Global

A democracia global tem sido uma proposta institucional que se centra exclusivamente na super-estrutura internacional e negligencia a estrutura económica dos mercados financeiros e das empresas multinacionais. É que em 1996, 51% das (100) maiores economias mundiais estavam nas mãos de empresas privadas. So 49% eram detidas por Estados. A economia da Wal-Mart era maior do que a de Israel ou a da Polónia, a da Mitsubishi era maior do que a da Indonésia e a da General Motors maior do que a da Dinamarca. (Portugal não conta nesta contabilidade das 100 maiores economias mundiais em 1996).
Se não houver uma mudança na base económica global, a democracia global será uma forma de legitimar a maior de todas as bestialidades humanas: a indiferença perante os outros. A lei da selva será bem mais cruel entre humanos do que entre as bestas, porque estas não acumulam mais do que aquilo de que precisam e podem, e precisam de menos e podem menos do que os humanos.

O Problema das Imagens

Parece (disse bem: Parece), que algumas imagens da manifestação do dia da greve geral captadas pela RTP mostram que alguns energúmenos que estavam a atirar pedras à polícia acabaram por se refugiar por trás das linhas da polícia, na altura em que a carga policial arrancou. Há quem diga que seriam infiltrados...
  • De qualquer modo, podemos e devemos ficar descansados. É que Miguel Relvas já disse que não tinha nada a ver com o caso, o caso de a RTP ter, de alguma forma, partilhado imagens não editadas com quem não pertence à empresa. E, se ele o disse, antes que alguém lhe perguntasse... é porque, de facto, é importante dizer isso antes que seja necessariamente tarde.
  • E isso, no meio de toda esta desgraça, é bom. Muito bom: há que desmentir tudo, antes que alguma coisa seja dita.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Obrigado

Muita gente me deu os parabéns hoje por ter feito anos. Acontece que não fiz nada para os fazer, e fiz o mesmo que nada para os não fazer. Não sou eu que mereço essa honra, mas sim o tempo, esse cão danado que nos persegue a rosnar e a morder-nos as canelas se queremos parar para descansar a ver o tempo passar. 
Resta-me a consolação de que hoje o Sol retorna à exacta posição que ocupava no dia em 
que nasci. Hoje, muito excepcionalmente, ele fez isso por mim. Quem sabe? talvez renasça. Mas até isso é mérito dele, do Sol. 


Parabéns então ao tempo que, ora à frente ora atrás, nunca ao lado, que eu nunca acertei a vida por ele, está a conseguir levar a dele avante. Naqueles e naquelas que, por lapso, me deram os parabéns a mim reconheço, todavia, a amizade, a simpatia ou a cortesia, e por isso lhes fico grato. Muito grato, porque enganados andamos todos, mas isso não é razão para deixarmos de andar ( o tempo não deixa...). 


Dizemos que escovamos o pêlo do cão no jardim com o argumento de que assim poupamos a casa e o tapete da casa aos pêlos que ficam por lá. Sabemos, no entanto, que isso não é verdade para os pêlos que continuam no cão (quase todos), o que equivale ao mesmo que não termos feito nada. Mas acreditamos em nós e na nossa magia, para não termos de reconhecer que, no fundo, escovar o pêlo ao cão é um acto de amizade, e só isso. Gostaria de ter razão, e estou convencido de que tenho, em interpretar do mesmo modo mágico os vossos parabéns. Obrigado a todos e a todas, portanto. Beijos, abraços, saudades. Jorge Barbosa

domingo, 18 de novembro de 2012

O Surdo


Mariano Rajoy diz que não ouviu Dilma Rousseff criticar austeridade

O presidente do Governo espanhol disse hoje não ter ouvido as críticas que a presidente brasileira Dilma Rousseff fez às políticas de austeridade, defendendo as decisões do seu executivo para responder à crise.

"Não ouvi nada isso. Não sei onde é que foi buscar isso", disse Mariano Rajoy, questionado por uma jornalista brasileira, na conferência de imprensa de encerramento da XXII Cimeira Ibero-americana em Cádis (sul de Espanha).
A jornalista perguntou diretamente a Mariano Rajoy como respondia às críticas de Dilma Rousseff à política de austeridade de Espanha.
Sem comentar a declaração de Rousseff, o chefe do Governo espanhol defendeu apenas os "cinco pilares" da ação do Governo para combater a crise: combater o défice, reformas estruturais, reformas económicas na UE, avançar na integração bancária e fiscal e reduzir o custo do financiamento da dívida.
Na sessão plenária da manhã de hoje, em Cádis -- presidida pelo rei de Espanha e pelo próprio Mariano Rajoy -- Dilma Rousseff teceu duras críticas às políticas de excessiva austeridade que estão a ser aplicadas na Europa e que estão a causar "sofrimento" às populações.
"O erro é achar que a consolidação fiscal coletiva, simultânea e acelerada, seja benéfica e resulte numa solução eficaz", disse Rousseff.
"Temos visto medidas que apesar de afastarem o risco da quebra financeira, não afastam a desconfiança dos mercados nem a desconfiança das populações. A confiança não se constrói apenas com sacrifícios", afirmou.
Para Rousseff é necessário que a estratégia e as medidas adotadas "mostrem resultados eficazes para as pessoas, horizontes de esperança e não apenas a perspetiva de mais anos de sofrimento".
Questionada pela Lusa sobre a resposta de Mariano Rajoy uma fonte oficial da presidência do Governo espanhol disse à Lusa que "o presidente não interpretou que o que disse a presidente brasileira fosse uma crítica à politica do governo espanhol".
"Considerou que era uma reflexão geral sobre a política de austeridade e não uma crítica a Espanha. Assim o entendeu e quando ouviu a jornalistas a perguntar respondeu que não ouvi a presidente brasileira criticar a política espanhola", disse a fonte.

A Tirania de "Toda a Verdade"

A verdade toda, se for verdade, há-de ser o mesmo que toda a realidade, se for à realidade que ela se refere. Será, por isso, indizível ou inútil. Mais complexa do que a verdade que é suscetível de ser compreendida por um ser humano, a verdade toda é uma forma disfarçada de tirania, de redução da realidade àquilo que os "técnicos" são capazes de entender e de dizer. Há quem confunda o mundo com o discurso que lhe diz respeito. O imperativo de dizer "tudo" confunde-se com a presunção ficcional de que tudo tenha sido dito ou vá ser dito, mesmo se deixar sem voz aqueles que teriam coisas diferentes para dizer. Dizer não é suficiente, nunca é suficiente, se o outro não tiver tempo ou possibilidade para entender e para responder. Quantas vezes o silêncio diz mais do que o discurso... Talvez os nossos políticos e os nossos tecnocratas e técnicos de comunicação devessem pensar nisto. Talvez. Desde que não se sintam tentados, e ainda menos preparados, para fazer um discurso sobre isto.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Angela Merkel, nouveau Machiavel


Angela Merkel, nouveau Machiavel

LE MONDE |  • Mis à jour le 
Ulrich Beck, sociologue et philosophe allemandLa chancelière allemande, Angela Merkel, le 16 octobre 2012 à Berlin.


Nombreux sont ceux qui voient en la chancelière allemande la reine sans couronne de l'Europe. Quand on pose la question de savoir d'où Angela Merkel tient son pouvoir, on est renvoyé à l'une des caractéristiques qui définissent sa façon de faire : une habileté machiavélique.

Selon Nicolas Machiavel (1467-1529), premier penseur à se pencher sur la nature du pouvoir, le prince ne doit tenir sa parole donnée hier que si elle peut lui apporterdes avantages. Si l'on transpose cette maxime à la situation d'aujourd'hui, cela donne : il est possible de faire aujourd'hui le contraire de ce que l'on a annoncé hier, si cela augmente les chances de gagner les prochaines élections. Les affinités politiques entre Merkel et Machiavel - le fameux modèle Merkiavel, comme je l'appelle - reposent en gros sur quatre composantes destinées à se compléter les unes les autres.
1. L'Allemagne est le pays le plus riche et économiquement le plus puissant de l'Union européenne. Dans l'actuel contexte de crise financière, tous les pays endettés dépendent de la bonne volonté des Allemands prêts à se porter garants des crédits nécessaires. Le machiavélisme de la chancelière tient au fait que, dans le conflit virulent qui oppose les architectes de l'Europe et les souverainistes, elle se garde de prendre parti - ou plutôt elle reste ouverte aux deux options.
Elle n'est pas solidaire des Européens (ni en Allemagne ni à l'étranger) qui demandent à cor et à cri des garanties allemandes, pas plus qu'elle ne soutient la fraction des eurosceptiques qui s'opposent à toute aide. Mme Merkel préfère - et c'est là toute l'ironie machiavélique de sa posture - faire dépendre la disposition de l'Allemagne à accorder des crédits de la disposition des pays endettés à accepterles conditions de la politique allemande de stabilité. C'est le premier principe de Machiavel : quand il s'agit d'aider les pays endettés avec l'argent allemand, la position d'Angela Merkel n'est ni un oui franc ni un non catégorique, mais un "mouais" entre les deux.
2. Comment est-il possible de faire passer cette position paradoxale dans la pratique politique ? Chez Machiavel, il conviendrait à cet endroit de faire preuve de vertu, mélange d'énergie politique et de pugnacité. C'est ici que nous touchons du doigt une autre forme d'ironie : le pouvoir de Merkiavel repose en effet sur le désir de ne rien faire, sur son penchant pour le ne-pas-encore-agir, à agir plus tard, à hésiter. Cet art de l'atermoiement sélectif, ce mélange d'indifférence, de refus de l'Europe et d'engagement européen est à l'origine de la position de force de l'Allemagne dans une Europe malmenée par la crise.
Certes, il y a de multiples raisons qui poussent à hésiter - la situation mondiale est si complexe que personne n'est capable de la débrouiller ; on n'a souvent plus le choix qu'entre des alternatives dont on ne peut mesurer les risques. Mais ces raisons justifient en même temps la politique de l'atermoiement comme stratégie de pouvoir. Angela Merkel a mené à un point de perfection la forme de souveraineté involontaire légitimée par le credo de l'austérité.
La nouvelle puissance allemande en Europe ne repose donc pas, comme ce fut le cas par le passé, sur la violence en tant qu'ultima ratio. Elle n'a besoin de recourirà aucune arme pour imposer sa volonté à d'autres Etats. Voilà pourquoi il est absurde de parler de "IVe Reich". La nouvelle puissance fondée sur l'économie est bien plus souple et bien plus mobile : elle est partout présente, sans qu'il soit nécessaire de lancer les troupes.
3. C'est de cette façon que peut être réalisé ce qui apparaissait comme la quadrature du cercle : réunir en une seule et même personne la capacité à être réélue dans son propre pays et à passer en même temps pour une architecte de l'Europe. Mais cela veut dire aussi que toutes les mesures nécessaires au sauvetage de l'euro et de l'Union européenne doivent d'abord réussir leur test d'aptitude à l'intérieur des frontières allemandes - savoir si elles sont propices aux intérêts de l'Allemagne et à la position de force de Merkel.
Plus les Allemands deviennent critiques à l'égard de l'Europe, plus ils se sentent encerclés par des pays peuplés de débiteurs qui n'en veulent qu'au porte-monnaie des Allemands, plus il sera difficile de maintenir ce grand écart. Merkiavel a répondu à ce problème en sortant sa carte "l'Europe allemande", qui est un véritable atout autant à l'intérieur qu'à l'extérieur des frontières de l'Allemagne.
En politique intérieure, la chancelière rassure les Allemands, qui ont peur pour leurs retraites, leur petit pavillon et leur miracle économique, et elle défend avec une rigueur toute protestante la politique du non - bien dosé -, tout en se profilant comme la maîtresse d'école seule capable de donner des leçons à l'Europe. En même temps, elle conçoit, dans les affaires extérieures, sa "responsabilité européenne", en intégrant les pays européens dans une politique du moindre mal. Son offre qui a aussi valeur d'appât se résume en cette formule : mieux vaut que l'euro soit allemand plutôt qu'il n'y ait pas d'euro du tout.
En ce sens, Mme Merkel continue à se révéler une très bonne élève de Machiavel."Vaut-il mieux être aimé que craint ?" demande celui-ci dans Le Prince"La réponse est qu'il faudrait l'un et l'autre, mais comme il est difficile d'accorder les deux, il est bien plus sûr d'être craint qu'aimé, si l'on devait se passer de l'un d'eux." La chancelière allemande recourt à ce principe de façon sélective : elle veut être crainte à l'étranger et aimée dans son pays - peut-être justement parce qu'elle a enseigné la crainte aux autres pays. Néolibéralisme brutal à l'extérieur, consensus teinté de social-démocratie à l'intérieur : telle est la formule qui a permis à Merkiavel de consolider sa position de force et celle de l'Europe allemande.
4. Angela Merkel veut prescrire et même imposer à ses partenaires ce qui passe pour être une formule magique en Allemagne au niveau économique et politique. L'impératif allemand est le suivant : Economiser ! Economiser au service de la stabilité. Mais dans la réalité, cette politique d'économie révèle qu'elle est surtout synonyme de coupes claires au niveau des retraites, de la formation, de la recherche, des infrastructures, etc. Nous avons affaire à un néolibéralisme d'une extrême violence, qui va maintenant être intégré dans la Constitution européenne sous la forme d'un pacte budgétaire - sans faire cas de l'opinion publique européenne (trop faible pour résister).
Ces quatre composantes du merkiavellisme - la liaison opérée entre souverainisme et leadership de la construction européenne, l'art de l'atermoiement comme stratégie de mise au pas, le primat donné aux échéances électorales et enfin la culture allemande de stabilité - se confortent les unes les autres et constituent le noyau dur de l'Europe allemande.
Et on trouve même chez Merkel un parallèle avec ce que Machiavel appelle lanecessita, cette situation d'urgence à laquelle le prince doit être capable de réagir : l'Allemagne comme "aimable hégémon", position tant vantée par Thomas Schmid, directeur de la publication du quotidien Die Welt, se voit contrainte de placer ce qui résulte d'un danger au-dessus de ce qui est interdit par les lois. Pour élargir à toute l'Europe, et de façon contraignante, la politique d'austérité de l'Allemagne, les normes démocratiques peuvent, selon Merkiavel, être assouplies ou même contournées.
Certes on assiste en ce moment à l'émergence d'un front d'opposition constitué par tous ceux qui pensent que l'avancée rapide de l'européanisation met à mal les droits du Parlement allemand et qu'elle est contraire à la Loi fondamentale, l'équivalent de la Constitution. Mais, en habile manoeuvrière, Mme Merkel parvient à instrumentaliser ces bastions de résistance en les intégrant dans sa politique de domestication par atermoiement. Une fois de plus, elle gagne sur les deux tableaux : davantage de pouvoir en Europe et davantage de popularité à l'intérieur, tout en recueillant la faveur des électeurs allemands.
Il se pourrait néanmoins que la méthode Merkiavel touche peu à peu à ses limites, car il faut bien reconnaître que la politique d'austérité allemande n'a pour l'instant enregistré aucun succès. Au contraire : la crise de l'endettement menace maintenant aussi l'Espagne, l'Italie et peut-être même bientôt la France. Les pauvres deviennent encore plus pauvres, les classes moyennes sont menacées de déclassement et l'on ne voit toujours pas le bout du tunnel.
Dans ce cas, ce pouvoir pourrait bien conduire à l'émergence d'un contre-pouvoir, d'autant plus qu'Angela Merkel a perdu l'un de ses plus solides alliés en la personne de Nicolas Sarkozy. Depuis que François Hollande est arrivé aupouvoir, les équilibres ont changé. Les représentants des pays endettés pourraient se regrouper avec les promoteurs de l'Europe à Bruxelles et à Francfort pour mettre sur pied une alternative à la politique d'austérité de la chancelière allemande, souvent très populiste, surtout axée sur les seuls intérêts allemands et motivée par la peur de l'inflation, et repenser ainsi la fonction de la Banque centrale européenne pour qu'elle se cale davantage sur la politique de croissance de la Banque centrale américaine.
Un autre scénario est aussi possible : on pourrait assister à un duel entre Angela Merkiavel, l'européenne hésitante, et Peer Steinbrück, candidat du SPD contre Mme Merkel en 2013, passionné d'échecs, qui s'est découvert une vocation de Willy Brandt sur le plan européen. Si la formule gagnante de ce dernier était "le changement par le rapprochement" [entre l'Est et l'Ouest], la formule de M. Steinbrück pourrait être : plus de liberté, plus de sécurité sociale et plus de démocratie - par le biais de l'Europe. On pourrait alors assister à une surenchère de deux proeuropéens. Soit Peer Steinbrück parvient à mettre Merkiavel mat au niveau européen ; soit Merkiavel l'emporte parce qu'elle aura découvert l'importance stratégique de l'idée européenne et se sera convertie en fondatrice des Etats-Unis d'Europe.
D'une façon ou d'une autre, l'Allemagne est confrontée à la grande question de l'Europe : être ou ne pas être. Elle est devenue trop puissante pour pouvoir sepayer le luxe de ne pas prendre de décision.
Traduit de l'allemand par Pierre Deshusses