segunda-feira, 8 de junho de 2009

SÓCRATES NÃO É INOXIDÁVEL


As eleições para o Parlamento Europeu foram vencidas pelos partidos conservadores e liberais. Os partidos socialistas e sociais democratas foram os principais perdedores a nível europeu, como, de resto, tem sido hábito em anteriores eleições. (Como se sabe, o PSD português não se assume, nem é, social-democrata; faz parte da família europeia dos partidos conservadores e liberais.)
Portugal, França e Dinamarca foram os únicos países que não contribuíram para essa vitória conservadora. Com efeito, em cada um deles, foram eleitos mais deputados europeus da esquerda do que da direita. Mesmo assim, exceptuando a Dinamarca, em todos os países, incluindo naturalmente Portugal e a França, os partidos da família socialista saíram perdedores destas eleições, sendo outros partidos de esquerda a contribuir para a derrota sociológica, moral, da direita, nos casos em que ela aconteceu. No Reino Unido, o partido dessa família socialista - o partido trabalhista - foi mesmo arrasado, tendo obtido um terceiro lugar, atrás do partido conservador e de um partido nacionalista anti-europeísta.
A taxa de abstenção é um auxílio para início de conversa de comentadores e dirigentes partidários. Não serve para mais nada, a não ser para, mais uma vez, os partidos e os partidocratas denunciarem a falta de empenho democrático do povo; não lhes ocorre sequer pensar que há muita gente que prefere não votar em ninguém.
Os partidos da família socialista não conseguem tirar as ilações que devem ser tiradas. Na verdade, não compreenderam ainda que, para levar à prática políticas conservadoras e liberais, há partidos que merecem mais confiança do povo. Fica-lhes difícil convencer quem quer que seja que, sendo de esquerda, conseguem pôr em prática políticas de direita mais eficazmente do que os partidos de direita. Esta estratégia de sedução serve para os conduzir ao poder, mas revela-se inútil para os conservar nele.
Em Portugal, o governo socialista deixou-se enfeitiçar pelos comentadores que o desafiavam a tomar cada vez mais medidas impopulares. A popularidade do governo era directamente proporcional à sua determinação em adoptar medidas impopulares. Enfeitiçado - só por feitiço se compreende a cegueira de quem parece ter bons olhos -, Sócrates entusiasmou-se e arruinou a base sólida de confiança popular com que iniciou o seu mandato. Na Educação, por exemplo, não fez uma única reforma; limitou-se a executar aquelas que, estando programadas por governos anteriores, tinha sido difícil, por falta de condições políticas, levar a cabo antes: a reforma da rede escolar e o aumento da oferta de formação profissional em escolas públicas. O resto, a que chamou pomposamente "reformas", foram as tais medidas impopulares: estatuto do professor, estatuto do aluno... Nenhuma destas medidas é uma reforma; todas juntas, também não. Nunca se tinha visto tanta pompa no Ministério da Educação para tão pouco.
Sócrates perdeu as eleições porque, afinal, não é inoxidável. Foi atacado pela ferrugem dos seus argumentos e pelo poder corrosivo do povo que descobriu debaixo da casquinha muita coisa falsa e já podre.
Pelo contrário, Berlusconni mostrou-se inoxidável. Apesar da chuva de escândalos e de disparates, venceu as eleições em Itália.
Aprendi com um familiar, que tinha uma fábrica de coisas em inox e casquinha (saladeiras, açucareiros, etc.) que o material, em inox, italiano não era melhor do que o português; era muitas vezes pior; só que tinha, em regra, um melhor design.
Entre Berlusconni e Sócrates até poderá haver uma diferença de design; mas eu acho que o povo português é simplesmente mais corrosivo do que o povo italiano.
O populismo, em Portugal, parece ter pouco futuro. Ainda bem...

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