terça-feira, 16 de dezembro de 2008

DIZ NÃO À CRISE


Dizem os especialistas, não sem uma boa dose de crueldade, que os portugueses vivem acima das suas possibilidades. Mas que portugueses?
Os que se endividam para ter uma máquina de lavar roupa, ou um aparelho de televisão? Os que comem a crédito?
Na verdade, muitos portugueses, se vivessem de acordo com as suas possibilidades, viveriam abaixo das condições sociais mínimas que a vida actual exige. Bem ou mal, talvez mal, mas exige. Ou há alguém que pense que uma máquina de lavar roupa não faz falta a quem trabalha muitas horas por dia? Ou um televisor a quem precisa de distrair a cabeça?
E, depois, se esses portugueses não tivessem acesso ao consumo, o que seria desta sociedade de consumo?
Talvez seja mais acertado dizer que há portugueses que ganham mais dinheiro do que o de que realmente necessitam. E esta, sim, é uma verdade que, não sendo tão cruel como acusar aqueles que vivem acima das sua possibilidades e que, mesmo assim, vivem mal, deveria ser correctamente equacionada.
Talvez seja necessário pensar que o direito à propriedade privada não é um direito divino nem natural: é, antes, tal como a acumulação de capital uma conveniência social. Por outras palavras, o capitalismo é uma conveniência, uma coisa que "dá jeito", não um direito ou uma garantia de justiça.
Parece que convém que seja assim, que o capital se concentre nas mãos de alguns e que a propriedade privada seja uma forma de distribuição de bens que, no final de contas, deveriam ser de todos. Ou será que alguém alguma vez nasceu já com o título de propriedade de uma parte da terra, passado pelos deuses ou pela natureza?
O capitalismo é uma evolução "racionalizada" das lutas pelo território, travadas em tempos primitivos e arcaicos pelos seres humanos e ainda prática corrente no restante reino animal.
O capitalismo, isto é: a concentração do capital, é, então, uma conveniência, uma forma particular que muitos julgam acertada e "racional" de organização social.
Ora, numa altura de crise, é bom que aquilo que se considera ser mais conveniente para todos o seja de facto.
Não é esta a melhor altura para deitar areia aos olhos das pessoas.
Se o capitalismo é uma coisa boa, é bom que o seja, para todos.
E, já agora, que não sejam responsabilizados pelas crises do capitalismo aqueles que nada têm, a não ser a sua força de trabalho.

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