Apagar mais de metade da dívida com ajuda do BCE
A proposta tem o curioso acrónimo de PADRE, mas recusa ser um "perdão". A dívida pública seria cortada em 55%, mais de 100 mil milhões de euros.
Um académico e um banqueiro suíços propõem reestruturar a dívida pública de todos os países
membros da zona euro, através de uma compra massiva pelo Banco Central Europeu no
mercado secundário de títulos no valor de 5 biliões de euros, cerca de metade do total da
dívida, transformando-a de seguida em dívida perpétua sem juros. A proposta tem o curioso
acrónimo de PADRE, em inglês (PADRE - Politically Acceptable Debt Restructuring in the
Eurozone; Reestruturação de dívida da zona euro politicamente aceitável). Os autores
recusam considerar esta reestruturação um perdão de dívida.
Portugal seria beneficiário da operação, com um abate de mais de 100 mil milhões de euros,
cerca de 55% da dívida pública.
O Expresso entrevista em exclusivo um dos autores, Charles Wyplosz, professor de
Economia Internacional no Graduate Institute de Genebra, e membro do grupo de
conselheiros económicos do Presidente da Comissão Europeia e do painel de peritos do
Comité de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu.
Não há milagres grátis
A nova renegociação dos prazos dos empréstimos europeus à Grécia trouxe de volta o
tema das reestruturações de dívida pública na zona euro.
Mas como não há "milagres" grátis, a proposta acarreta uma "condicionalidade" pesada.
Depende de condições políticas apertadas a aceitar pelos beneficiários, refere-nos
Ricardo Cabral, professor da Universidade da Madeira, que analisou a proposta.
"Um espartilho orçamental reforçado", quer em termos de défice estrutural (o que já tem
sido implementado com a célebre "regra de ouro") como de teto da dívida pública
(com uma folga de 10 pontos percentuais) que teria de ficar inscrito na Constituição e
onde possível referendado. O cumprimento desses limites seria analisado semestralmente
O artigo refere as diversas propostas de reestruturação e mutualização da dívida pública que
têm surgido.