segunda-feira, 30 de outubro de 2006
sexta-feira, 20 de outubro de 2006
quinta-feira, 19 de outubro de 2006
terça-feira, 17 de outubro de 2006
O Verdadeiro Socrates no seu Melhor
Querefonte, um amigo de Sócrates, foi um dia ao templo de Delfos e perguntou ao oráculo se haveria algum homem mais sábio que Sócrates. A resposta foi negativa. Sócrates ficou muito surpreendido por ser considerado o mais sábio, pois ele tinha consciência de que sabia muito pouco.
«Que poderá o deus querer dizer, ao afirmar que sou eu o mais sábio? (...) [Para tentar descobrir] lancei-me a esta obra.
Fui junto de um daqueles que aparentavam ser sábios, pensando que aí poderia contradizer a resposta do oráculo, objectando-lhe: “Eis um homem mais sábio que eu. Porque disseste que era eu o mais sábio?” Mas, ao examinar o homem com quem se passou isto – não preciso de o nomear, era um dos nossos estadistas – e, conversando com ele [acerca da Justiça, do Bem, da Coragem, do Belo, etc.] homens de Atenas, achei que parecia a muitos outros ser sabedor e, sobretudo, a si próprio, mas não o era. De seguida, tentei mostrar-lhe como ele julgava ser sábio, mas não era.
Com isto, tornei-me detestado por muitos dos presentes e, ao afastar-me dali, pensei que era por ser mais sábio que aquele homem. Pois é possível que nenhum de nós saiba nada do que é bom e belo, mas, enquanto ele julga saber algo, eu, como nada sei, nada julgo saber. E nisto parece-me que sou um pouco mais sábio que ele, por não julgar saber as coisas que não sei. Daí, fui a outro daqueles que pareciam sábios e fiquei com a mesma opinião. E assim passei a ser detestado por esse e por muitos outros. (...)
Após os homens de estado, dirigi-me aos poetas, autores de tragédias, de ditirambos e outros, esperando ser apanhado na minha maior ignorância. (...) Para acabar, dirigi-me aos artesãos. (...) [Todas essas pessoas, tinham conhecimentos relativos à vida prática e às suas profissões, mas] por praticarem bem a sua arte, cada um deles julgava ser o mais sábio noutros importantes assuntos sem realmente ser. (...) Ora, não será a mais censurável das ignorâncias julgar saber o que não se sabe?
[Por isso, talvez com este oráculo o deus tenha querido dizer que] a sabedoria humana é coisa de nenhum ou pouco valor: “Entre vós, homens, o mais sábio é aquele que, como Sócrates, reconhece ser a sua sabedoria de nenhum valor” [isto é, aquele que reconhece a sua ignorância, aquele que ao menos sabe que não sabe].
(...) Se me matardes, não encontrareis com facilidade outro como eu que – para falar gracejando – se agarre à cidade como um moscardo a um cavalo forte e de bom sangue que, por causa do tamanho, precisa de ser despertado por um aguilhão. Parece-me que é como se o deus me tivesse preso à cidade, para que eu acorde, convença e exorte cada um de vós durante todo o dia [a dar mais importância à alma que ao corpo, a procurar mais a virtude que a riqueza], em qualquer lugar e sem afrouxar o cerco. Por isso, se me matardes passareis o resto da vida a dormir, a menos que o deus envie algum outro para vos inquietar. (...) E se eu disser que uma vida sem pensar não é digna de ser vivida por um homem, ainda menos vos terei persuadido. É como digo, homens, não sois fáceis de convencer.»
Platão, Apologia de Sócrates, tradução de Trindade Santos, Impressa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa.
«Que poderá o deus querer dizer, ao afirmar que sou eu o mais sábio? (...) [Para tentar descobrir] lancei-me a esta obra.
Fui junto de um daqueles que aparentavam ser sábios, pensando que aí poderia contradizer a resposta do oráculo, objectando-lhe: “Eis um homem mais sábio que eu. Porque disseste que era eu o mais sábio?” Mas, ao examinar o homem com quem se passou isto – não preciso de o nomear, era um dos nossos estadistas – e, conversando com ele [acerca da Justiça, do Bem, da Coragem, do Belo, etc.] homens de Atenas, achei que parecia a muitos outros ser sabedor e, sobretudo, a si próprio, mas não o era. De seguida, tentei mostrar-lhe como ele julgava ser sábio, mas não era.
Com isto, tornei-me detestado por muitos dos presentes e, ao afastar-me dali, pensei que era por ser mais sábio que aquele homem. Pois é possível que nenhum de nós saiba nada do que é bom e belo, mas, enquanto ele julga saber algo, eu, como nada sei, nada julgo saber. E nisto parece-me que sou um pouco mais sábio que ele, por não julgar saber as coisas que não sei. Daí, fui a outro daqueles que pareciam sábios e fiquei com a mesma opinião. E assim passei a ser detestado por esse e por muitos outros. (...)
Após os homens de estado, dirigi-me aos poetas, autores de tragédias, de ditirambos e outros, esperando ser apanhado na minha maior ignorância. (...) Para acabar, dirigi-me aos artesãos. (...) [Todas essas pessoas, tinham conhecimentos relativos à vida prática e às suas profissões, mas] por praticarem bem a sua arte, cada um deles julgava ser o mais sábio noutros importantes assuntos sem realmente ser. (...) Ora, não será a mais censurável das ignorâncias julgar saber o que não se sabe?
[Por isso, talvez com este oráculo o deus tenha querido dizer que] a sabedoria humana é coisa de nenhum ou pouco valor: “Entre vós, homens, o mais sábio é aquele que, como Sócrates, reconhece ser a sua sabedoria de nenhum valor” [isto é, aquele que reconhece a sua ignorância, aquele que ao menos sabe que não sabe].
(...) Se me matardes, não encontrareis com facilidade outro como eu que – para falar gracejando – se agarre à cidade como um moscardo a um cavalo forte e de bom sangue que, por causa do tamanho, precisa de ser despertado por um aguilhão. Parece-me que é como se o deus me tivesse preso à cidade, para que eu acorde, convença e exorte cada um de vós durante todo o dia [a dar mais importância à alma que ao corpo, a procurar mais a virtude que a riqueza], em qualquer lugar e sem afrouxar o cerco. Por isso, se me matardes passareis o resto da vida a dormir, a menos que o deus envie algum outro para vos inquietar. (...) E se eu disser que uma vida sem pensar não é digna de ser vivida por um homem, ainda menos vos terei persuadido. É como digo, homens, não sois fáceis de convencer.»
Platão, Apologia de Sócrates, tradução de Trindade Santos, Impressa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa.
Subscrever:
Mensagens (Atom)