Encontrei finalmente excertos fiáveis e integrais, se combinados corretamente uns com os outros, das lições de Hegel sobre Estética, nas minhas bases de dados. Hegel é um pouco obscuro a escrever, mas consegue complicar as coisas ainda um pouco mais quando fala. Estas lições são faladas e reproduzidas por escrito. Portanto... Vou ver se faço uma seleção destas lições numa tradução para português tão aceitável quanto a minha dificuldade. Como alguém com comichão se sente motivado para se coçar, assim eu tenho de retomar a escrita, nem que seja para nada.
Aqui vai um exemplo:
I. Delimitação da Estética e Refutação de Algumas
Objeções contra a Filosofia da Arte
Por meio desta expressão excluímos de imediato o belo natural. Tal delimitação de nosso objeto pode, sob certo aspecto, parecer uma determinação arbitrária, já que cada ciência está autorizada a demarcar como bem entende a extensão de seu campo. Mas não devemos tomar neste sentido a limitação da estética ao belo da arte.
É certo que na vida quotidiana estamos acostumados a falar de belas cores, de um belo
céu, de um belo rio, como também de belas flores, de belos animais e, ainda mais, de belos seres humanos, embora não queiramos aqui entrar na discussão acerca da possibilidade de se poder atribuir a tais objetos a qualidade da beleza e de colocar o belo natural ao lado do belo artístico. Mas pode-se desde já afirmar que o belo artístico está acima da natureza. Pois a beleza artística é a beleza nascida e renascida do espírito e, quanto mais o espírito e suas produções estão colocadas acima da natureza e seus fenómenos, tanto mais o belo artístico está acima da beleza da natureza.
Sob o aspecto formal, mesmo uma má ideia, que porventura passe pela cabeça dos homens, é superior a qualquer produto natural, pois em tais ideias sempre estão presentes a espiritualidade e a liberdade. É verdade que segundo o conteúdo, por exemplo, o sol aparece como um momento absolutamente necessário, enquanto uma ideia enviesada se desvanece como casual e efémera. Mas, tomada por si mesma, a existência natural como a do sol é indiferente, não é livre em si mesma e autoconsciente e, se a considerarmos segundo a sua conexão necessária com outras coisas, não a estaremos considerando por ela mesma e, portanto, não como bela.
Dissemos, de modo geral, que o espírito e sua beleza artística estão acima do belo natural. Entretanto, com isso quase nada foi de facto estabelecido, pois "acima" é uma expressão totalmente indeterminada, que ainda designa a beleza natural e a beleza artística como se estivessem uma ao lado da outra no espaço da representação; ela apenas estabelece uma diferença quantitativa e, por isso, exterior. A superioridade do espírito e de sua beleza artística perante a natureza, porém, não é apenas algo relativo, pois somente o espírito é o verdadeiro, que tudo abrange em si mesmo, de modo que tudo o que é belo só é verdadeiramente belo quando toma parte desta superioridade e é por ela gerada. Neste sentido, o belo natural aparece somente como um reflexo do belo pertencente ao espírito, como um modo incompleto e imperfeito, um modo que, segundo a sua substância, está contido no próprio espírito. - Além disso, parece-nos bastante natural a limitação à arte bela, pois mesmo que se fale de belezas naturais - menos nos antigos do que entre nós - nunca ocorreu a ninguém enfocar as coisas naturais do ponto de vista de sua beleza, e constituir uma ciência, uma exposição sistemática, de tais belezas. Ao contrário, já foram tratadas do ponto de vista da utilidade e concebeu-se, por exemplo, uma ciência das coisas naturais que servem para combater as doenças, uma matéria médica, uma descrição de minerais, produtos químicos, plantas, animais que são úteis para a cura, mas as riquezas da natureza nunca foram compiladas e julgadas do ponto de vista da beleza. Sentimo-nos em relação à beleza natural demasiadamente no elemento do indeterminado, não possuindo critério e, por isso, uma tal compilação ofereceria muito pouco interesse.
Estas observações prévias sobre a beleza na natureza e na arte, sobre a relação de ambas e a exclusão da primeira do âmbito de nosso autêntico objeto devem afastar a concepção de que a delimitação de nossa ciência deve-se somente à arbitrariedade e ao capricho. Essa relação por enquanto não deve ser demonstrada, pois sua consideração recai no seio de nossa própria ciência e deve, por isso, ser somente mais tarde discutida e provada com mais rigor.
(Claro, pode ser que continue)
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