Agora já está. A operação foi-marcada para uns dias antes de ter de renovar a carta de condução para ir trabalhar, sendo certo ter de trabalhar mais meia dúzia de anos, mesmo que ela não seja renovada. Não há-de ser nada. As meninas do balcão estavam muito simpáticas hoje. Eram as duas Rosas. Uma das Rosas até disse "tenho de telefonar à polícia para me irem buscar o filho ao ATL." A outra Rosa não se cansava de dizer aos utentes quando seria a sua operação, se precisavam de levar uns chinelos ou mais do que isso, até que a uma senhora, com o dobro da sua idade disse: "Olhe. querida, vá almoçar e volte aqui, depois das 14,30h. Só vai ser operada amanhã. Pode ir comer à vontade". E a outra: "Adonde, menina?" "pode ir a sua casa, onde lhe apeteça; hoje, já não é operada; só amanhã." A velha era irmã, prima, em todo o caso, da família da outra que, em Braga, apregoou aos quatro ventos: "Bubende, cumende todos e andaide de elétrico". Podiam ser gémeas. Mas desta vez, a senhora baixou os olhos ao chão e deu umas voltas no corredor. Voltou. E, de novo a menina do balcão: "Oh santa. Porque é que não vai comer? - despachou ela. "E adonde? menina?" Aquilo que, antes, era uma só pergunta passou agora a ser duas. Esta mudança de tom e de inquirição daria um volumoso tratado de fonética que valorizaria a estante de quem o tivesse, mas daria pouco dinheiro a quem o escrevesse. E o volumosos Tratado ficou por aqui.
Era aquele clarinete a arancar a Raposódia de Gershwin plays Gershwin: Rhapsody in Blue - YouTube. Nesse clarinete, estão todas as perguntas feitas e a fazer a respeito do universo que é e que um dia há-de ser. Só que agora o "E adonde? menina?" era mais em jeito de saxofone, uma voz mais humanizada, menos fina e mais a sério. Nenhum outro instrumento lhe responde. O piano, mais atrevido, ainda repete a pergunta, mas nunca lhe dá resposta. Não há resposta para pergunta tão importante e tão de dentro "E adonde, menina?" Grande pergunta. Nem o Gershwin. Entretanto, aTV, empandeirada contra a parede dava notícias sobre a tempestade na Europa (fosse lá onde isso fosse, não era aqui). E via-se uma loiríssima menina sueca a ser atirada ao chão prelo vento a questionar-se timidamente "Mas donde vem isto? Não estamos no Sul, onde estas coisas acontecem certamente porque ninguém sabe adonde ir. E perguntam e ninguém lhes responde."
Entretanto a TV avisa a senhora que fez a pergunta que Gershwin não se atreveu a fazer e a mim próprio, que estive calado este tempo todo, que ninguém vai poder ter mais do que 2 cães e 4 gatos. Como é que é possível que o piano de Gershwin não soubesse isto? pergunto eu agora, já que aqui estou, impedido por lei de a mandar ver se está a nevar nos Alpes.
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