Ouço e leio frequentemente opiniões de comentadores que começam por alertar os ouvintes e leitores para o facto de não perceberem do assunto sobre que opinam e até de não estarem a par dele. Não é esse o meu caso. Nos finais dos anos 60 do século XX, tive acesso, através do consulado da Suécia no Porto (o Sr. Jervell), a publicações de propaganda da política social "revisionista" de Olof Palm (entretanto assassinado) na Suécia.
Mais tarde, já após o 25 de Abril, por um conjunto de coincidências que não vêm agora ao caso, participei em várias ações ligadas ao Acordo Luso Sueco para promoção da educação especial em Portugal.
Mais tarde ainda, tive o privilégio de receber no Porto mais do que uma delegação de professores da Suécia, da Finlândia, da Dinamarca para troca de experiências e conhecimentos. Estas trocas continuaram em diversos formatos que agora também parecem não ser relevantes.
A minha ideia aqui é tão só a de reforçar a minha posição de conhecedor do assunto em muitas das suas dimensões.
Na propaganda de Olof Palm, percebe-se o empenho do governo sueco na organização de um Estado capaz de responder diretamente aos problemas das pessoas (diziam as revistas), ao nível da educação, da saúde,da segurança social, etc. A prioridade eram as pessoas, a "única verdadeira riqueza" da Suécia.
Esta mesma posição era reforçada pelos professores e técnicos que acompanhavam em Portugal o Acordo Luso Sueco.
Já nos encontros de intercâmbio posteriores, os nórdicos (suecos e finlandeses, sobretudo) queixavam-se de alterações no seu modelo social e os suecos, nostalgicamente, reviam heranças da sua história da educação nas escolas que, comigo, visitavam no Porto. Embora estivessem enganados, neste aspeto muito particular porque a herança era norueguesa, até os equipamentos de parqueamento de pranchas de Ski em escolas portuguesas (absolutamente inúteis) os comoviam. Queixavam-se basicamente do início da destruição do seu Estado social.
Agora, podem ler-se notícias que dão conta da insatisfação dos suecos com a privatização de escolas públicas. O rendimento dos alunos reduziu drasticamente.
Do outro lado da barreira, encontrei os holandeses. O seu sistema educativo era suportado por escolas e serviços privados de natureza confessional. Compreendia o embaraço dos meus colegas, sempre apressados em acrescentar que as escolas calvinistas aceitavam alunos católicos. Nas zonas urbanas é assim mesmo, mas nas rurais isso é feito alimentando as rivalidades, que, na Holanda, estiveram muito longe de não serem sangrentas ao longo da História. O calvinismo adotou modalidades fundamentalistas verdadeiramente vergonhosas, mesmo na época em que foi desencadeado, tal como o catolicismo e a Santa Inquisição.
O que é que me parece errado na Suécia? Muito simples: que alguém, em nome de uma moda qualquer, tenha desprezado uma História e uma Cultura que se vinha instalando com sucesso, embora com necessidade (certamente) de reformulações. Do mesmo modo, seria absurdo e completamente errado destruir o sistema educativo holandês, nacionalizando a rede escolar. Pode precisar de reformulações, mas elas não podem, não devem, destruir a cultura e os seus fundamentos. Sem vergonha.
Em Portugal, já seria um grande avanço se os decisores políticos percebessem que a globalização pode conter e deve conter em si mesma as diferenças com origem local e comunitária.
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