Se o meu cão, o Chaplin, falasse era comentador político, seguramente um politólogo diligente e fiel, para além de responsável, sério, verdadeiro e credível.
Pois não é que hoje mesmo lhe deu para ladrar como se não houvesse amanhã? Hoje, precisamente neste glorioso dia em que Portugal finalmente cede às pressões internas e externas para pedir "ajuda externa".
O bicho deve ter percebido o problema, e não consegue dormir em paz: mal se lhe fecham os olhos, salta e ladra como se tivesse sido atacado por um monstro. Se o mando calar, aproxima-se de mim e, se falasse, perguntar-me-ia se eu não estou a ver o monstro que lhe atormenta o sono. Como insisto em que se cale, ele corre para a varanda a ladrar como quem diz "está lá fora, no exterior, não vês?"
Bem lhe faço festas na cabeça e digo "não é nada", mas o Chaplin começa a ficar preocupado e a preocupar-me.
O mais certo é que me esteja a avisar de perigo iminente.
Se falasse, era politólogo e ganhava a vida a fazer comentários e a poupar dinheiro às televisões, dispensando-as de transmitir programas com interesse.
A crise seria o seu abono de família. Provavelmente deixaria de ter pesadelos. Não lhe iriam faltar ossos para roer. Seria um cão realizado.
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