Os astros anunciavam há muito tempo o inevitável. O actual governo de Portugal (lamentavelmente PS) escolheu uma estratégia: dividir os grupos profissionais e atacar um de cada vez. Não está a fazer mais do que aquilo que lhe foi exigido por uma União Europeia de tendência neo-liberal, perigosamente próxima do capitalismo mais libertário e total alguma vez praticado no Velho Continente.
Com efeito, sabe-se que, não havendo aumento de riqueza, e havendo sectores ou grupos económicos que enriquecem, haverá inevitavelmente quem esteja a ficar mais pobre. Não vale a pena iludir esta simples e demasiado óbvia constatação puramente matemática. A distribuição da pobreza é, por esta via, muito mais rápida, quase instantânea, do que qualquer tentativa de redistribuição da riqueza.
Aos Governos, como bons administradores do Estado, compete assegurar uma justa redistribuição da riqueza para minorar os efeitos perniciosos que resultam da concentração da riqueza num pequeno número de cidadãos.
Só que é mais fácil propagandear a igual penalização de todos, sabendo-se como se sabe que quem tem pouco, perdendo pouco pode perder o essencial e que quem tem muito, mesmo que perca muito, raramente é afectado na sua qualidade de vida. Esta igualização da miséria é uma falsidade. Esta igualização é, de facto, a manutenção de privilégios para os detentores dos meios de produção de riqueza.
Os vários sectores da sociedade não reagiram, ou reagiram com aplausos, quando o Governo atacou um deles: os farmacêuticos, os juízes, os professores, etc. Os próprios jornalistas rejubilaram quando descobriram que o Governo tinha uma Ministra da Educação que conseguia fazer nada, rigorosamente nada, a favor da melhoria da educação, mas que distraiu a populaça com a sua guerrilha contra os professores, como se daí resultasse qualquer bem para o país. A Comunicação Social esteve sempre do lado dela.
Só que agora chegou a vez dos jornalistas: perdem menos do que os professores, em boa verdade quase nada, só o regime especial de Segurança Social e de Saúde, enfim, aquilo que quase todos já perderam, de uma forma ou de outra.
Talvez agora entendam até que ponto têm sido parvos, promovendo a propaganda do poder: talvez agora percebam que têm andado a dar tiros no seu próprio pé. Vamos ver se os editorialistas e chefes de redacção continuam a rejubilar com o azar dos outros ou se aproveitam esta maravilhosa oportunidade para deixarem de estar ao serviço dos grandes grupos económicos, dos gestores de sucesso, dos economistas que não sabem fazer contas de matemática e que acham que o valor de referência para determinar o valor dos vencimentos ou dos preços é o PIB e não a moeda, o Euro, (que, por acaso, tem o mesmo valor em todos os países da Zona Euro, sendo portanto, a variável mais segura para efectuar qualquer comparação aceitável).
2 comentários:
Parabéns pelo excelente blogue
Caro Jorge, aposto que os jornalistas em geral vão precisar de mais apertos para aprenderem. Eles, especialmente os da nossa tv, dão o exemplo: repetem a mesma notícia três vezes - o pivot introduz o sumário, o colega, no terreno, papagueia, repete-se, anda às voltas, pede ao cameraman para o filmar à volta para apanhar o boneco a 360 graus e despede-se tentando resumir o que já disse e, finalmente, o pivot, para fazer a ponte, repete o sumário. Talvez os jornalistas da nossa tv pensem que o tuga está distraído ou é retardado e precisa de tanta repetição para perceber um pouco o que se está a passar. Impondo este modelo, acabam por o absrover. Por isso, penso que ainda não aprenderam a lição e terão de apanhar mais 2 ou 3 vezes com o pau na cabeça para aprenderem. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)
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