Estado endivida-se no montante pretendido com juros a subir 33,8 por cento
01.04.2011 - 10:03 Por Paulo Miguel Madeira
O Estado conseguiu exceder o objectivo a que se propunha no leilão extraordinário de hoje de dívida pública, colocando no mercado 1645 milhões de euros de Obrigações do Tesouro que vencem em Junho do próximo ano, a uma taxa média de 5,793 por cento e com a procura a exceder 1,4 vezes a oferta.
As Finanças organizaram hoje um leilão extraordinário
(Pedro Cunha (arquivo))
(Pedro Cunha (arquivo))
O valor pago hoje está no entanto substancialmente abaixo dos valores entre cerca de oito a 8,5 por cento em que hoje de manhã oscilavam os juros dos títulos a um ano nos mercados secundários, de acordo com os dados da agência Reuters.
O IGCP anunciou de surpresa ontem à tarde este leilão extraordinário da OT 5% Junho 2012, com o objectivo de obter 1500 milhões de euros, justificando-o com a “procura específica neste título” – o que pode significar que já tinha reunido compradores para licitarem.
Há um ano, a 7 de Abril de 2010, quando a crise grega ainda estava a ter os primeiros reflexos nos mercados, Portugal pagou uma taxa média de 1,046 por cento para se endividar em 500 milhões de euros através de Bilhetes do tesouro a um ano – o que significa que hoje pagou 5,5 vezes mais, uma subida de 450 por cento, revelando o nível anormalmente caro a que o Estado se está a financiar, apesar de a operação ter sido bem sucedida.
Sucesso relativo
“Podemos dizer que foi um sucesso, na medida em que a taxa a que o Estado pediu dinheiro emprestado foi mais baixa do que aquela que, na mesma altura, o mercado estava a oferecer”, notou o gestor de dívida do Banco Carregosa, Filipe Silva. “Mas não deixa de ser uma taxa demasiado elevada para um prazo tão curto, pouco mais de um ano. (...) Portugal com este leilão conseguiu comprar tempo, colocando dívida a uma taxa inferior à do mercado secundário”, acrescentou, num comunicado enviado às redacções.
O IGCP anunciou ontem o calendário de financiamento do Estado no segundo trimestre, que pretende obter entre quatro mil milhões e sete mil milhões de euros em emissões de títulos de curto prazo. Se as operações forem bem sucedidas – e até agora nada impede que o sejam, o que foi reforçado com o leilão de hoje – o Governo poderá conseguir reunir o dinheiro de que necessita para amortizar as obrigações que vencem este mês e em Junho, num total de mais de nove mil milhões de euros.
Esta é no entanto uma situação anormal, por não ser assumida qualquer intenção de o Estado se endividar agora a médio e longo prazo, o que se pode justificar com os níveis proibitivos a que estão as taxas de juro (e que pesam mais nos prazos mais longos) e com o facto de não se saber se no mecanismo permanente de auxílio financeiro da zona euro que vai vigorar a partir de 2013 os investidores privados poderão ser obrigados a assumir perdas com dívida soberana.
Até essa altura, a dívida contraída está totalmente garantido pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira da UE, em conjunto com o FMI. Neste contexto, o financiamento do Estado exclusivamente através de emissões a curto prazo pode ser uma maneira de assegurar os financiamentos necessários até ao Verão, deixando para o Governo que se formar após as eleições a decisão de recorrer à ajuda externa.
Notícia actualizada às 10h38
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