Ele e o presidente do BES mostraram-se ainda favoráveis à privatização da Caixa Geral de Depósitos (CGD). No entanto, enquanto Ricardo Salgado defendeu que esta deve ser parcial, mantendo o Estado o controlo do banco, já Fernando Ulrich (do BPI) considerou que a longo prazo esta deve ser alienada na totalidade a privados. No mesmo sentido falou o presidente do BIC que argumentou brilhantemente que uma vez que a CGD só financia a alta finança, tal como os bancos privados, então o melhor seria que fosse privatizado, porque sendo público, isso é errado e, sendo privado, isso está certo. Não fosse uma questão suscetível de criar algumas confusões, e eu utilizaria este argumento para que alunos do ensino secundário detetassem a burrice que contém. Quem sabe? Talvez faça isso mesmo.
Na verdade, o que os banqueiros estão a evidenciar é que, evitando o vernáculo das vendedoras do Bolhão no uso da língua, recorrem ao vernáculo dos argumentos, que, no caso das ditas vendedoras, é limpo e honesto. Prefiro pessoas que utilizam palavrões para dizer coisas razoáveis, a pessoas que utilizam uma linguagem polida para esconder argumentos porcos.
Senhores banqueiros, o facto de o capital estar a explorar o trabalho, a acreditar no exemplo sugestivo e assumido do presidente do BPI a respeito da política do seu Banco, não quer dizer que isso esteja correto; muito menos quer dizer que o Estado deva ser cúmplice dessa coisa. Por outro lado, senhores banqueiros, se a CGD não está a financiar as pequenas e médias empresas, como devia, e a economia em geral, como tem de ser, isso não significa que deva mudar de estatuto para continuar a fazer o mesmo; pelo contrário, deve fazer diferente, justamente para que cumpra o seu estatuto. Como disse, qualquer vendedora do Bolhão, por muitos palavrões que diga, é mais honesta e inteligente nos argumentos a que recorre.
Os senhores banqueiros, com esta crise, estão a mostrar que afinal usam argumentos tão indigentes como qualquer pacóvio numa conversa de tasca. Só que usam palavras eruditas para dizer coisas saloias.
Na verdade, contra o governo, o povo pode e deve, em certos casos, fazer manifestações de protesto; há mesmo situações em que se pode justificar a desobediência civil; pode mesmo acontecer que, no limite, os portugueses decidam votar em branco nas eleições, uma vez que os dirigentes partidários se estão a afastar do povo que deveriam respeitar. Mas, quando se trata do poder financeiro privado, a única solução é mesmo a de retirar o dinheiro dos bancos, dirigidos por gente menos bem preparada para viver numa situação de dificuldade, do que as vendedoras do Bolhão,
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