quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Os Banqueiros e o Bolhão

Sobre o recuo do Governo no aumento da contribuição dos trabalhadores para a Segurança Social e o corte da Taxa Social Única (TSU) para as empresas, Ulrich (presidente do BPI) considerou que revelou “bom senso” do Executivo, apesar dos eventuais "méritos técnicos" da medida. Segundo ele, "o mérito técnico" tinha a ver com o facto de as empresas já estarem a transferir o valor do trabalho para o capital há muito tempo, e que a única diferença tinha a ver com o facto de agora essa transferência ser patrocinada pelo governo. Deu mesmo como exemplo a política salarial do seu Banco: foram reduzidos os salários dos funcionários; "e onde ficou o dinheiro poupado? no Banco, isto é, nos acionistas". Olha a novidade!

Ele e o presidente do BES mostraram-se ainda favoráveis à privatização da Caixa Geral de Depósitos (CGD). No entanto, enquanto Ricardo Salgado defendeu que esta deve ser parcial, mantendo o Estado o controlo do banco, já Fernando Ulrich (do BPI) considerou que a longo prazo esta deve ser alienada na totalidade a privados. No mesmo sentido falou o presidente do BIC que argumentou brilhantemente que uma vez que a CGD só financia a alta finança, tal como os bancos privados, então o melhor seria que fosse privatizado, porque sendo público, isso é errado e, sendo privado, isso está certo. Não fosse uma questão suscetível de criar algumas confusões, e eu utilizaria este argumento para que alunos do ensino secundário detetassem a burrice que contém. Quem sabe? Talvez faça isso mesmo.
Na verdade, o que os banqueiros estão a evidenciar é que, evitando o vernáculo das vendedoras do Bolhão no uso da língua, recorrem ao vernáculo dos argumentos, que, no caso das ditas vendedoras, é limpo e honesto. Prefiro pessoas que utilizam palavrões para dizer coisas razoáveis, a pessoas que utilizam uma linguagem polida para esconder argumentos porcos.
Senhores banqueiros, o facto de o capital estar a explorar o trabalho, a acreditar no exemplo sugestivo e assumido do presidente do BPI a respeito da política do seu Banco, não quer dizer que isso esteja correto; muito menos quer dizer que o Estado deva ser cúmplice dessa coisa. Por outro lado, senhores banqueiros, se a CGD não está a financiar as pequenas e médias empresas, como devia, e a economia em geral, como tem de ser, isso não significa que deva mudar de estatuto para continuar a fazer o mesmo; pelo contrário, deve fazer diferente, justamente para que cumpra o seu estatuto. Como disse, qualquer vendedora do Bolhão, por muitos palavrões que diga, é mais honesta e inteligente nos argumentos a que recorre.
Os senhores banqueiros, com esta crise, estão a mostrar que afinal usam argumentos tão indigentes como qualquer pacóvio numa conversa de tasca. Só que usam palavras eruditas para dizer coisas saloias.
Na verdade, contra o governo, o povo pode e deve, em certos casos, fazer manifestações de protesto; há mesmo situações em que se pode justificar a desobediência civil; pode mesmo acontecer que, no limite, os portugueses decidam votar em branco nas eleições, uma vez que os dirigentes partidários se estão a afastar do povo que deveriam respeitar. Mas, quando se trata do poder financeiro privado, a única solução é mesmo a de retirar o dinheiro dos bancos, dirigidos por gente menos bem preparada para viver numa situação de dificuldade, do que as vendedoras do Bolhão,

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