OPINIãO
Tirem-nos deste filme
28 Março 2011 | 11:39
Helena Garrido - Helenagarrido@negocios.pt
Irresponsabilidade, incompetência, partidarismo carreirista e mediocridade.
São estas a características do que se pode dizer, de forma minimamente educada, sobre aquilo a que temos assistido durante os últimos quinze dias em Portugal.
A última cena deste filme de terror de baixa qualidade - já não tem a dignidade de uma peça de teatro - é a eliminação da avaliação dos professores aprovada em tempo recorde pelos partidos da oposição, sexta-feira, na Assembleia da República. Deitou-se para o lixo mais de quatro anos de trabalho e persistência de uma das melhores e mais corajosa ministra da Educação que o país teve, Maria de Lurdes Rodrigues. Tudo porque os partidos de poder que estão na oposição, o PSD e de alguma forma o CDS, caíram na tentação bacoca de conquistar os eleitores que são professores. Devem pensar que não só o país mas também os professores são parvos.
O acto da eliminação da avaliação dos professores é não só grave como tem um enorme valor simbólico. Vale mais do que milhares de análises sobre pelo menos duas décadas perdidas de tentativas de reformas estruturais. Os grupos de pressão em Portugal, principais responsáveis pelo estado em que o país se encontra, têm nos partidos os seus grandes aliados. Da construção que conseguiu que se fizessem estradas desnecessárias até à banca, justiça, saúde e educação, todos os protagonistas destes sectores manipulam com grande sucesso partidos políticos recheados de militantes anónimos que, na sua maioria, vivem à mesa do Orçamento do Estado e fazem tudo menos pensar nos interesses do país.
Todo o processo que levou ao irresponsável "não" do dito PEC IV é mais um exemplo da irresponsabilidade e falta de sentido de Estado que enxameia nestes tempos as lideranças políticas. Os analistas dos bancos internacionais com quem o Negócios foi falando desde a Cimeira de 11 de Março tiveram grande dificuldade em compreender como foi possível Portugal deitar pela janela fora um apoio europeu que nem a Grécia nem a Irlanda tiveram. Os gregos imploraram ajuda, os irlandeses foram empurrados para a ajuda e os portugueses, dizia um dos analistas, atiraram-se para a ajuda. Imaginem como já está a imagem de Portugal.
O que torna o "não" ao PEC IV e a precipitação para eleições antecipadas ainda mais incompreensíveis é tudo o que aconteceu a seguir, tendo como personalidade central o líder do PSD. As declarações de Pedro Passos Coelho durante os últimos quatro dias revelam uma desorientação e até um desconhecimento sobre a dimensão do problema financeiro português e europeu que são assustadoras. Não queremos acreditar que Passos Coelho desconhecia que o PEC IV era uma peça integrada na nova estratégia europeia de combate à crise do euro. Nem é possível acreditar que Passos Coelho não tinha uma estratégia já definida para o dia seguinte ao chumbo do PEC IV que não fosse contradizer o que tinha dito antes ou permitir que pessoas da sua equipa fizessem declarações sobre as taxas de juro e o risco da República que se aproximam de manifestações de fé.
No processo de apresentação do PEC IV José Sócrates cometeu um erro, como uns acreditam, ou premeditou esta crise para ganhar com ela, como é convicção de outros. Seja qual for a realidade - que só Sócrates saberá - erros e premeditações não se combatem com mais erros e desorientações que lançam o país para situações ainda mais graves, como tem andado a fazer o PSD.
Depois da manifestação da "Geração à Rasca", que em Lisboa juntou grupos com convicções diametralmente opostas sem que se partisse um vidro ou incendiasse um carro, o mínimo que se pode exigir aos líderes políticos é que façam aquilo que é sua obrigação, entendam-se para resolver os problemas.
Os portugueses já perceberam há algum tempo que têm de mudar de vida. Os eleitores não são parvos. Mário Soares é ainda hoje a grande figura da democracia apesar das medidas impopulares que tomou no seu tempo. Este tempo não é de politiqueiros que só se sabem mover pela carreira ou pela raiva. Todos queremos sair deste filme de quarta categoria mas precisamos de políticos com visão e dimensão.
A última cena deste filme de terror de baixa qualidade - já não tem a dignidade de uma peça de teatro - é a eliminação da avaliação dos professores aprovada em tempo recorde pelos partidos da oposição, sexta-feira, na Assembleia da República. Deitou-se para o lixo mais de quatro anos de trabalho e persistência de uma das melhores e mais corajosa ministra da Educação que o país teve, Maria de Lurdes Rodrigues. Tudo porque os partidos de poder que estão na oposição, o PSD e de alguma forma o CDS, caíram na tentação bacoca de conquistar os eleitores que são professores. Devem pensar que não só o país mas também os professores são parvos.
O acto da eliminação da avaliação dos professores é não só grave como tem um enorme valor simbólico. Vale mais do que milhares de análises sobre pelo menos duas décadas perdidas de tentativas de reformas estruturais. Os grupos de pressão em Portugal, principais responsáveis pelo estado em que o país se encontra, têm nos partidos os seus grandes aliados. Da construção que conseguiu que se fizessem estradas desnecessárias até à banca, justiça, saúde e educação, todos os protagonistas destes sectores manipulam com grande sucesso partidos políticos recheados de militantes anónimos que, na sua maioria, vivem à mesa do Orçamento do Estado e fazem tudo menos pensar nos interesses do país.
Todo o processo que levou ao irresponsável "não" do dito PEC IV é mais um exemplo da irresponsabilidade e falta de sentido de Estado que enxameia nestes tempos as lideranças políticas. Os analistas dos bancos internacionais com quem o Negócios foi falando desde a Cimeira de 11 de Março tiveram grande dificuldade em compreender como foi possível Portugal deitar pela janela fora um apoio europeu que nem a Grécia nem a Irlanda tiveram. Os gregos imploraram ajuda, os irlandeses foram empurrados para a ajuda e os portugueses, dizia um dos analistas, atiraram-se para a ajuda. Imaginem como já está a imagem de Portugal.
O que torna o "não" ao PEC IV e a precipitação para eleições antecipadas ainda mais incompreensíveis é tudo o que aconteceu a seguir, tendo como personalidade central o líder do PSD. As declarações de Pedro Passos Coelho durante os últimos quatro dias revelam uma desorientação e até um desconhecimento sobre a dimensão do problema financeiro português e europeu que são assustadoras. Não queremos acreditar que Passos Coelho desconhecia que o PEC IV era uma peça integrada na nova estratégia europeia de combate à crise do euro. Nem é possível acreditar que Passos Coelho não tinha uma estratégia já definida para o dia seguinte ao chumbo do PEC IV que não fosse contradizer o que tinha dito antes ou permitir que pessoas da sua equipa fizessem declarações sobre as taxas de juro e o risco da República que se aproximam de manifestações de fé.
No processo de apresentação do PEC IV José Sócrates cometeu um erro, como uns acreditam, ou premeditou esta crise para ganhar com ela, como é convicção de outros. Seja qual for a realidade - que só Sócrates saberá - erros e premeditações não se combatem com mais erros e desorientações que lançam o país para situações ainda mais graves, como tem andado a fazer o PSD.
Depois da manifestação da "Geração à Rasca", que em Lisboa juntou grupos com convicções diametralmente opostas sem que se partisse um vidro ou incendiasse um carro, o mínimo que se pode exigir aos líderes políticos é que façam aquilo que é sua obrigação, entendam-se para resolver os problemas.
Os portugueses já perceberam há algum tempo que têm de mudar de vida. Os eleitores não são parvos. Mário Soares é ainda hoje a grande figura da democracia apesar das medidas impopulares que tomou no seu tempo. Este tempo não é de politiqueiros que só se sabem mover pela carreira ou pela raiva. Todos queremos sair deste filme de quarta categoria mas precisamos de políticos com visão e dimensão.
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