Jorge Nunes Barbosa
12 de Maio de 2014
A Verdade
A Verdade como Adequação
Não pretendo com este texto fazer doutrina. Aceito, não sem alguma dificuldade, as interpretações sobre o conceito de "verdade como correspondência ou adequação" dos manuais de apoio ao ensino secundário, que conheço. Não são de facto interpretações erradas, só não são as melhores, do meu ponto de vista.
Em todos os casos os manuais em propaganda para adoção no 11º ano, a partir de 2014, que conheço, a verdade como adequação é considerada ser a mesma coisa que a verdade como correspondência. Do ponto de vista terminológico ou até simplesmente nominal, adequação e correspondência podem ser termos sinónimos, mas, do ponto de vista da história da filosofia, é muito discutível que se possa confundir um com o outro quando se referem à verdade.
O conceito de verdade como correspondência, como imagem perfeita e completa da realidade, é enunciado por Platão, sendo que a realidade seriam as ideias do mundo das ideias e não o mundo sensível, depois por Aristóteles para quem a realidade seria o mundo sensível. A perspetiva empirista de Aristóteles foi dominante na filosofia e no senso comum do ocidente e continua a manter-se no mais recente positivismo lógico.
Relativamente ao conceito de verdade como adequação, parece preferível, e eu penso que é mais correto, adotar o conceito de verdade como adequação de Espinosa, um filósofo do século XVII, excessiva e injustamente desprezado nos manuais. “Uma ideia verdadeira é, segundo Espinosa, uma ideia adequada. Isso não quer dizer que ela nos dê a ciência exaustiva de um objeto, mas que não omite nada do que nos permite conhecer esse objeto pela sua causa. Vejamos, por exemplo, a definição de esfera que Euclides propõe no livro XI dos Elementos: “A esfera é a figura compreendida na superfície gerada por um semi-círculo, quando, mantendo-se o seu diâmetro imóvel, o semi-círculo gira até ao ponto de onde começou a mover-se” (Definição 14). Esta definição não exibe o conjunto das propriedades de uma esfera, mas permite deduzi-las como consequências mais ou menos longínquas de um princípio de construção suficiente para distinguir a esfera de qualquer outra figura: trata-se de uma ideia verdadeira de esfera, segundo Espinosa. Uma ideia verdadeira não é, assim, nem mais nem menos do que uma verdadeira ideia, uma ideia em conformidade com o que pretende ser”. (Barbosa, Jorge Nunes, 2012, Introdução a Espinosa, iBooks)
Neste sentido, a verdade como adequação não é o mesmo que correspondência exaustiva com o objeto.
Do meu ponto de vista, este conceito de verdade como adequação de Espinosa prenuncia o niilismo, o construtivismo, o perspetivismo, o pragmatismo. Não é, portanto, uma conceção que possa ser desprezada, sem prejuízo para o entendimento do conceito de verdade na filosofia.
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