O futuro e a imprevisibilidade são uma e a mesma coisa. Não me atrevo a dar-lhes o nome de sinónimos, só porque, tendo lido algumas coisas sobre a nova gramática da língua portuguesa, decidi desistir do esforço de compreender por que razão, na filosofia tanto como agora na linguística, os movimentos de formalização da linguagem precisam tanto de a afastar da língua natural, para a submeter ao domínio do digital binomial. Essas razões, afinal, não estarão muito longe daquelas que subordinam a política às finanças.
Também não é preciso distinguir o futuro da imprevisibilidade. De facto, se o futuro não fosse imprevisível, não existiria. Simples.
A humanidade inventou as narrativas míticas e a própria ciência para combater essa imprevisibilidade, para destruir o futuro, para colocar tudo no presente, para viver no paraíso ou no nirvana. Não conseguiu (inconseguimento?).
O mais complicado é que o próprio passado é uma interpretação que depende, ela, a interpretação, da imprevisibilidade do futuro. O passado também é imprevisível. Interpretá-lo implica que tenhamos alguma perspetiva sobre o que poderá vir a ser o futuro.
O que é que nos resta? Justamente a linguagem humana e o pensamento para dar sentido ao mundo. Seria aconselhável que aqueles a quem foi atribuído o privilégio de falar assiduamente com o povo não destruíssem este pouco que nos resta de humanidade.
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