As instituições políticas são de facto racionais, no sentido em que podemos explicar porquê e como têm sucesso ou falham, mas não devem nunca ser condicionadas pelo comportamento razoável (ou não) dos seus utilizadores. O que lhes dá valor é justamente o facto de serem bastante indiferentes às qualidades ou defeitos dos indivíduos podendo, assim, funcionar com a mesma eficácia, quer os homens sejam conduzidos pela razão, quer estejam submetidos às piores paixões. Boas instituições são, assim, capazes de forçar os mais inconstantes a comportar-se como se fossem leais (cap. 1, § 1, IV, pp. 13-14).
Mas, embora o valor das instituições não dependa da sabedoria dos homens, pode acontecer, pelo contrário, que a sabedoria dos homens dependa das instituições políticas, não que elas possam tornar os homens sábios - não é essa a sua função -, mas na medida em que criem as condições, sem as quais a sabedoria não poderia nascer ou desenvolver-se. Podendo, graças às instituições, coexistir de forma durável com os outros, cada um é incitado a conceber a humanidade através de noções comuns, e não através de ideias gerais. A vida em comunidade dá ao indivíduo uma oportunidade para compreender que a razão, através da qual concorda com os outros, é também aquilo que lhe é próprio ao mais alto nível. Ela deve contribuir para reduzir os efeitos maiores da alienação.
Assim, mesmo que as instituições da cidade não sejam feitas por ele, o sábio é aquele que melhor pode aproveitar delas. Sabe ver, na coacção comum que elas lhe impõem, mais do que um mal necessário para a sua segurança, um verdadeiro fundamento da sua liberdade.
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