Por razões que pouco interessa que sejam ditas aqui, passei algum tempo, ultimamente, a rever a filosofia de Platão. Diz ele, quer na República quer nas Leis que o perigo maior do Estado é a sua divisão. Por isso, contrariando Xenofonte, também discípulo de Sócrates, defende que o Estado deve ser de dimensões reduzidas, à maneira das cidades-estado gregas que lhe servem de modelo. Mas, mais do que pela dimensão do Estado, ele bate-se pela instituição de uma comunidade de bens, para combater um outro fator de desunião: os interesses pessoais.
A Doutrina Social da Igreja adota a mesma terminologia, embora com um significado um pouco diferente, mais próximo da revisão deste conceito nas Leis.
Em qualquer caso, o que aqui interessa é que, desde há muito tempo, a ideia de que o Estado não suporta divisões ou ruturas no seu seio é óbvia para quem pensa a política, não em função dos seus interesses pessoais ou dos seus amigos, nem muito menos em função de uma perspetiva puramente economicista, mas que submetem o seu pensamento a princípios de justiça.
Ora, é isso que se pede aos políticos do nosso tempo: que pensem na união e na sobrevivência das próprias sociedades humanas organizadas em Estado, antes de se preocuparem com o sistema financeiro que as possa suportar, muito simplesmente porque qualquer que seja este sistema, ele não tem qualquer viabilidade, se a vida em sociedade não a tiver antes.
Devemos fazer, então, um apelo veemente aos políticos para que sejam políticos e não merceeiros. Que tenham um perspetiva de sociedade justa, pela qual estejam dispostos a lutar, e não se limitem a olhar para o caderno, já sebento e mal cheiroso, dos calotes.
E aqueles, como Medina Carreira, que pensam e dizem que a Constituição não pode ser posta em prática quando há falta de dinheiro, que sejam convidados a trabalhar num circo, a domesticar animais. E que sejam bem remunerados por isso (com o salário mais alto que seja possível atribuir-lhes), para que não tenham a tentação de fazer palhaçadas nos sítios errados.
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