A inteligência propriamente dita não pode transformar-se num ofício, numa profissão. A inteligência, pela sua própria natureza, nem é um trabalho nem pode ser uma magistratura. Consiste em súbitas, instantâneas visões e entrevisões que ninguém sabe quando nem se se produzirão. O maior dom da inteligência, que é simultaneamente condição do seu exercício, é que nunca está segura de si mesma. O Homem inteligente, precisamente porque é inteligente, nunca sabe se no momento imediato vai ser inteligente. Quem crê com segurança na permanência da sua perspicácia é precisamente tolo. O inteligente caminha tendo sempre à vista as possíveis asneiras que lhe podem ocorrer e por isso é capaz de as evitar.
Por isso digo que a inteligência não pode ser uma magistratura, nem se pode burocratizar, que é inútil querer protegê-la e que ela, sustida pela mais venturosa e radical vocação que pode ter-se, procura entre as asperezas e dificuldades da vida, INDEPENDENTE, livre de tudo - livre até de protecção - receber as sempre inesperadas revelações.
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