"1632. Nasce em Amsterdão, em 24 de novembro, Baruch (ou Bento, ou Benedictus) de Espinosa, de uma família, de origem ibérica, de prósperos comerciantes, cristãos novos reconvertidos ao judaísmo quando se refugiaram na Holanda, país calvinista ortodoxo e uma das únicas repúblicas europeias. Nessa época a Holanda vivia o seu "século de ouro", tornava-se uma nação rica e poderosa, desenvolvendo-se económica, política e culturalmente; por isso foi também marcada por um período de conflitos externos (lutas com outros países pela hegemonia marítima e invasão às colónias espanholas) e internos (luta pelo poder entre o partido orangista, calvinista ortodoxo, e o partido republicano, calvinista liberal).
1639-50. Estuda na escola judaica de Amsterdão, onde, de início, é educado de acordo com uma linha mais liberal e humanista do judaísmo e, mais tarde, segundo o judaísmo ortodoxo. Nesses anos aprende hebreu e entra em contacto com as obras dos mais importantes pensadores judeus (Abraão lbn Ezra, Maimónides, Leão Hebreu, Chasdai Crescas, Delmedigo, Gersónides e os cabalistas).
1648. O Tratado da Vestfália pôe fim à Guerra dos Trinta Anos. As Províncias Unidas (das quais a Holanda faz parte) assinam um tratado de paz separadamente, em que é reconhecida a sua independência.
1652. Espinosa começa a seguir os cursos de Francis van den Enden, ex-jesuíta, livre-pensador, estudioso da filosofia clássica, poeta e dramauugo, com quem estuda latim, grego, ciências naturais, filosofia neoescolástica e filosofia e ciências cartesianas. Início da primeira Guerra Anglo-Holandesa, motivada pela disputa da hegemonia marítima, e que durará até 1654.
1653. Jan de Witt torna-se grande pensionário da Holanda.
1654. Morre o pai de Espinosa, de cujos negócios Espinosa e o seu irmão já se ocupavam; segue-se uma disputa com uma das suas irmãs pela herança do pai, à qual Espinosa acaba por renunciar, apesar de ter ganho de causa. Espinosa começa a lecionar na escola de Van den Enden.
1655. Começa a frequentar reuniões de judeus liberais críticos, como os seminários filosóficos promovidos pelo médico Juan de Prado e pelo poeta Daniel Ribera. É acusado de heresia pela comunidade judaica holandesa, fanática e ortodoxa, que se contrapõe aos judeus reconvertidos (ex-cristãos novos), de formação mais humanista e liberal.
1656. Um judeu fanático tenta assassinar Espinosa. Em julho Espinosa é excomungado e expulso da comunidade judaica de Amsterdam, por ter ideias consideradas heterodoxas e pelas suas ligações com livres-pensadores.
1656-58. Expulso da comunidade judaica, Espinosa entra em contacto com grupos cristãos: em primeiro lugar, com quakers ingleses e depois com os académicos (entre eles, políticos e editores), calvinistas não ortodoxos que, defendendo uma política de paz e uma economia liberal, se opõem aos partidários do orangismo, calvinistas ortodoxos a favor da dominação do Estado pela Igreja e que condenavam o desenvolvimento económico, por o considerarem contrário à Bíblia. Os académicos reuniam-se para estudar a Bíblia; alguns dos participantes desse grupo garantiram uma pensão vitalícia a Espinosa. Espinosa estabelece, também, relações com pessoas dos círculos científicos e culturais da Holanda.
1660. Muda-se para Rijnsburg. Escreve o Breve Tratado de Deus, do Homem e de
sua Beatitude. Para se sustentar, Espinosa dá aulas e torna-se polidor de lentes ópticas. A sinagoga de Amsterdam solicita oficialmente que as autoridades municipais denunciem Espinosa como uma ameaça à piedade e à moral.
1661. Inicia correspondência com Heinrich Oldenburg, que veio a ser secretário-geral da Royal Sociery (maior academia científica do século XVII). Inicia a redação da Ética, "síntese de seu pensamento ontológico, antropológico e ético, modelo perfeito do sistema filosófico consumado, construído não para cantar a glória de Deus, mas para expressar a unidade do mundo e os poderes do homem na construção da sua própria liberdade e da sua própria alegria". Esta obra, que só será publicada após a sua morte, terá grande importància e influência nas correntes filosóficas futuras.
1662. Conclui o Tratado sobre a Reforma do Entendimento, "uma crítica epistemológica da razão que introduz um autêntico método reflexivo", e que só será publicado após a sua morte.
1663. Muda-se para Voorburg. Publica os Princípios da Filosofia de Descartes, obra que consistia numa apresentação sistemática da filosofia de Descartes, com críticas, sugestões e análises de Espinosa para o seu aprimoramento, com Pensamentos Metafísicos. Espinosa inicia o contacto com o físico Huygens.
1665. Início da segunda Guerra Anglo-Holandesa (que durará até 1667).
1668. Jan de Witt estabelece aliança com a Inglaterra e com a Suécia, impedindo a invasão francesa.
1670. Espinosa muda-se para Haia, onde se mantém graças a uma pensão concedida pelo seu amigo Jan de Witt. Publica anonimamente o Tratado Teológico-Político, análise da religião popular e crítica contundente do calvinismo ortodoxo. Nele defende a liberdade da filosofia, sem interferências religiosas ou políticas, defende a separação entre Estado e Igreja, entre política e religião, e entre filosofia e revelação. Assim como a sua obra anterior, o Tratado recebe ataques violentos.
1671. Leibniz envia a sua obra Notitia Opticae Promoteae a Espinosa, e este envia a Leibniz o Tratado Teológico- Político.
1672. A França invade a Holanda, dando início à Guerra da Holanda. Jan de Witt e o seu irmão são linchados por serem considerados culpados da invasào francesa. Guilherme de Orange é nomeado statbouder. Amigos impedem Espinosa de se pronunciar publicamente contra este facto, temendo pela sua integridade.
1673. Para preservar a sua independência intelectual e a sua liberdade académica, Espinosa recusa a cátedra de filosofia que lhe é oferecida na Universidade de Heidelberg. Em maio, Espinosa parte para Utrecht, em missão diplomática, para tentar negociar a paz com a França, apoiado pelos regentes holandeses e a convite do próprio chefe militar francês, que acaba não o recebendo. Quando volta para Haia, consideram-no suspeito
de ser espião francês. Os franceses são finalmente expulsos da Holanda, após devastar grande parte de seu território.
1674. O Tratado Teológico-Político é proibido por um édito publicado pelo Estado holandês, juntamente com outros livros considerados contrários à religião do Estado.
1675. Espinosa conclui a Ética, mas desiste de publicá-la quando fica a saber que, devido a rumores de que preparava um livro em que demonstrava que Deus não existia, os representantes da Igreja calvinista apelaram ao governo para impedir sua publicação. Mesmo assim, a Ética circulou entre os seus amigos, em exemplares manuscritos. Leibniz faz várias visitas a Espinosa. Além dele, Espinosa também recebe o filósofo e cientista Von Tschirnhaus.
1676-77. Escreve o Tratado Político, "um estudo dos fundamentos existenciais (o desejo) e racionais (o pacto social) da política", em que expõe a sua teoria de Estado e projetos de constituição de estados monárquicos e aristocráticos, obra também publicada postumamente.
1677. Morre de tuberculose em Haia, em 21 de fevereiro. Publicação da Ética, das Correspondências, do Tratado sobre a Reforma do Entendimento, do Tratado Político e de um Compêndio de Gramática Hebraica.
1678. O governo holandês publica um novo édito proibindo a divulgação da obra póstuma de Espinosa.
1687. Publicaçào do Tratado sobre o Cálculo Algébrico do Arco-Íris e de Cálculo das Probabilidades."
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