Diz-se que muitas vezes os reféns se ligam afetivamente aos seus captores, tornando-se mesmo, de algum modo, emocionalmente dependentes dos seus carrascos. Chama-se a este fenómeno a síndrome de Estocolmo (já agora, pemitam-me que insista em dizer "a síndrome", sendo que também poderia dizer "o sindroma", em homenagem - fora de moda - à língua portuguesa). Assim parece viver Portugal que, não só está refém dos seus credores, como também não consegue pensar, sem lhes fazer uma vénia prévia. É que, se os credores se desinteressassem pela dívida de Portugal, tudo indica, por via dessa síndrome dita de Estocolmo, que este maravilhoso país, mau grado ser povoado pelo "melhor povo do mundo", perderia todos os objetivos e consequente razão de viver. Sem necessidade de se submeter aos seus credores, Portugal suicidar-se-ia muito provavelmente, a acreditar no que dizem os "nossos sábios", aqueles mesmos que chamam ignorantes aos outros e, que, quando os outros lhes devolvem o epíteto, se limitam a dizer que não respondem a insultos. É ou não é este um verdadeiro e genuíno sintoma dessa tal fantástica síndrome de Estocolmo?
Possuído por essa síndrome (ou por esse sindroma, insisto), Portugal transporta a sua gigantesca pedra até ao cimo de uma altíssima montanha. Uma vez lá chegada, a pedra rola imparável pelas colinas, e, de novo, se torna necessário levá-la até ao cume. Como Sísifo, aquele herói caído em desgraça e condenado pelos deuses a que a sua vida se transformasse numa gigantesca tarefa esquizóide. Não cumpria o seu destino Sísifo, e não o cumprirá Portugal, com revolta ou com conformismo. Não há revolta nem conformismo no destino. Só há o seu cumprimento respeitoso e empenhado. Levemos a nossa pedra ao cimo da montanha, para que ela role pelas colinas e possamos voltar a carregá-la até ao cimo da montanha. E que este movimento seja um movimento perpétuo. É este o desejo mais sublime de quem, por certo sabiamente, conduz os destinos deste país com o "melhor povo do mundo": que não se limite a ser o melhor, que seja também um símbolo heróico e inesquecível, como foi e é Sísifo, da condição humana. Menos do que isto, será decadência, vergonha, tragédia, todas, coisas indignas do melhor povo do mundo.
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