Amanhador de Peixe

Assisti, por sorte de principiante, a um debate futebolístico num canal de televisão nacional.
E percebi tudo. Percebio o problema do Sporting e, por simpatia, o problema do país, isso mesmo, de Portugal.
Parece que o Sporting tem vindo a ser dominado pelos mercados, sobretudo do BES. Pelos vistos, a acreditar nos sábios comentadores, a linha seguida pelos três últimos dirigentes (Roquete, quem diria?, Soares Franco e Bettencourt) era a de agradar aos nervosos mercados: BES, sobretudo, e BCP, também. Os dirigentes eram da confiança dos mercados, em suma, para abreviar a coisa.
Assim, tem-se verificado o seguinte:

• O Sporting, comandado por bancários, assumiu a política de pagar a dívida para competir no futebol;
• O Porto e o Benfica, comandados não interessa por quem, assumiram a política de ganhar no futebol para pagar a dívida.

O resultado:

• O Sporting pagará a dívida, mas já falta pouco para jogar na Segunda Divisão Distrital, perdendo qualquer hipótese de créditos futuros.
• O Porto e o Benfica disputam o primeiro lugar da LIga e vão pagando a dívida, aumentando assim a sua linha de créditos futuros.

Vendo este peixe pelo preço a que o comprei, mas já amanhado, sem tripas, nem espinhas, para que siga directo para a panela ou para a frigideira.
Acredito, pelo que ouvi, que um dos comentadores (declaradamente farto dos mercados) apoie a minha forma de amanhar o peixe; suponho que, no entanto, Manuel Serrão (empresário, mercadodependente, viciado portanto) e Fernando Seara (autarca, por fomação religiosa, crente nos mercados) me obriguem a devolver o peixe, para nele reporem as tripas e as espinhas.
De qualquer modo, entre os debatentes (batem-que-batem em ferro frio) da política e os debatedores (de rasgar caminho, à catanada, pelos matos agrestes) bem que poderia haver quem amanhasse o peixe.

Talvez se chegasse à conclusão que Portugal tem de vencer para pagar a dívida, e não de pagar a dívida para vencer.

Sporting há só um, e é bom que assim continue.