- "Imagina, Chaplin, uma nova espécie animal tão sapiens como outra qualquer, mas não homo, uma felinus sapiens, por exemplo. Aprenderia sem dificuldade que um homo sapiens qualquer já tinha pisado a Lua. Em abono do facto, teria acesso a imagens gravadas, atestando esse fenómeno com toda a evidência e contra todo o ceticismo. O problema, Chaplin, surgiria quando imagens e provas da mesma qualidade, ou até de qualidade muito superior, mostrassem cavalos a falar, homens a zurrar, e por aí fora. O que seria a verdade num mundo destes? É que essas imagens e provas, para um qualquer felinus sapiens, existem por aí aos montes."
- "Como podes tu, pobre Chaplin, distinguir um programa de televisão de um intervalo publicitário? Não podes, ninguém pode, porque os programas destinam-se a mostrar, não o que é bom, mas o que, se não for mostrado, não será nada".
- "Ouviste aquele treinador de futebol a garantir que, depois de um jogo sem a equipa fazer um único remate à baliza do aversário, fazer um novo jogo e rematar duas vezes e fazer um golo já é um grande progresso?"
- "Observa bem aquela velha a roer o farrapo de couve galega, a enrolá-lo no único dente que ainda tem, a misturá-lo na broa de milho que mastiga laboriosamente, a saborear uma verdadeira iguaria, e a lamentar-se de não ter contado à sua filha que há muito já fez setenta anos, e que agora lhe pede desesperadamente que a salve da máquina que lhe vai desvendar os interiores, que aqueles homens, que nascem de geração espontânea do monte de lixo que separa a sua rua da rua dos outros, são boas pessoas, mas não servem para pais dos filhos das mulheres. Diz-lhe isto, com a filha sentada ao colo. Mas sabe que não resolve nada com o que diga. Porque tudo o que possa dizer já é tardio e fora do prazo."
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Escrevida III de CHAPLIN - Excertos de Entrevista
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