A liberdade de escolha (o livre arbítrio) já é um problema em si mesmo, ainda antes de os políticos se atirarem a ele como tábua de salvação, sempre que não saibam nadar. Não lhe faz falta discurso de nenhum político ou comentador para ser o problema que é.
A acreditar em Espinosa, o ser absolutamente livre é livre porque não tem livre arbítrio. Não tem de escolher entre ser isto ou aquilo, entre fazer isto ou aquilo, porque nada o impede de ser e fazer tudo, absolutamente tudo. É livre porque não tem que escolher. Escolher é uma limitação da liberdade.
Isto pode parecer, e é, confuso para muita gente. Para nos ajudar a equacionar o problema da livre escolha, o ministro da educação decidiu, na linha conhecida de Paulo Portas, financiar o ingresso dos alunos no ensino particular. Logo o rebanho habitual de comentadores desatou a balir incessantemente louvores à livre escolha das famílias. Agora, dizem, as famílias poderão finalmente escolher a educação para os seus filhos. Não só os ricos, que já o faziam, mas também os pobres.
Esta é a fantasia. Por vezes, essa fantasia torna-se delirante. Por isso, aqui vai um alerta.
A "livre escolha" das famílias é, de facto, a livre escolha da escola; as escolas (algumas mais do que outras) passarão a legitimamente selecionar os seus alunos. Vejamos. No ensino superior público (limitemo-nos a este para não gerar confusões), os alunos escolhem o curso e a universidade que querem frequentar. A tal escolha livre. Isso permite que os cursos e as universidades mais pretendidas possam escolher os seus futuros alunos de um campo de possibilidades muito vasto. Aquele aluno que, acreditando que tem liberdade de escolha, insista em frequentar só aquele que escolhe, arrisca-se a não fazer curso nenhum. Esta é a liberdade de escolha: ou vai para aquele para onde foi selecionado ou não vai para nenhum. Não há outra, no contexto sócio político em que vivemos.
O que pretende, então, o ministro da educação? Que os critérios de seleção, atualmente em vigor nas universidades, comecem, desde já a ser adotados nos jardins de infância e nas escolas primárias. Ele lá sabe o que quer, se é que sabe.
A única coisa que é claramente falsa e propaganda delirante é que se diga que isso aumenta a liberdade de escolha das famílias. Corrijam isso, por favor.
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