Discute-se, agora, o aumento de 25 euros no salário mínimo. Uma verdadeira fortuna que, pelos vistos, poderá atirar milhares e milhares de pessoas para o desemprego, agravando perigosamente a crise financeira e económica do país, porventura levando-o mesmo à bancarrota e seguramente criando muitas dúvidas nos mercados, a respeito da capacidade de Portugal para ultrapassar as suas dificuldades.
Entretanto, para compensar, organizam-se campanhas de ajuda caritativa aos desgraçados dos pobrezinhos: salvam-se o país e as almas.
Convém então que, para salvaguarda do país e das almas, o salário mínimo se mantenha num limiar que garanta que os trabalhadores permanecem numa situação de quase indigência. Embora essa indigência aumente as despesas do Estado, com todo o tipo de abonos e subsídios que ela acarreta, este não é problema que, com alguma tenacidade, não se consiga resolver. Com efeito, os empresáios, politólogos (atenção a este novo tipo de fauna televisiva) não deixarão de inundar os meios de comunicação com o apelo para o emagrecimento do Estado, em nome da salvação nacional. Os subsídios e outros abonos baixarão inevitavelmente ou desaparecerão mesmo.
Os ditos privados pagarão uma miséria de salário, o Estado não intervém nem ajuda porque não pode engordar e o país finalmente "faz o trabalho de casa" e entra numa via de progresso imparável.
Criam-se empresas privadas, solidárias, de caridade que não deixem os trabalhadores morrer à fome e montam-se quiosques para recolha de alimentos, oferecidos por trabalhadores pobres a essas empresas que se encarregarão de os redistribuir pelos pobres trabalhadores. Deste modo, as grandes superfícies verão asseguradas algumas compensações à diminuição do consumo, o rendimento dos pobres será redistribuído entre eles, sem perturbar os investidores e a sua nobre missão de acumular capital não partilhável sem lucro.
E o mundo ficará maravilhado: Portugal passa a ser um modelo de desenvolvimento e felicidade.
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