- reduzam-se os salários dos portugueses e depois aprovem-se aumentos das propinas no ensino superior. Com efeito, todos nós sabemos que, assim, se diminuirá o número de alunos nas universidades e os correspondentes custos, haverá aumento do desemprego de professores do ensino superior, e os seus filhos não poderão pagar as propinas, reduzindo de novo os custos das universidades, etc, etc.... até que, finalmente as universidades só sejam frequentadas pelos filhos de famílias importantes. Já não têm pernas? Não sejam piegas! Ponham-se a correr.
- reduzam-se os salários dos portugueses e depois aprovem-se aumentos nas taxas moderadoras para acesso aos serviços de saúde. Já há pessoas a comprar medicamentos diretamente nas farmácias, sem a contribuição do SNS, porque lhes fica mais barato do que pagar a parte que lhes diz respeito do custo do medicamento e as taxas moderadoras para acesso aos serviços de saúde. Mais tarde ou mais cedo, a saúde dos portugueses piorará e muitos acabarão por morrer antes de chegar à idade da reforma. Já agora, reduzam-se também as pensões dos reformados e aumentem-s-lhes os custos com a saúde. Esta é uma verdadeira medida estrutural. Por si só, reduz os custos no imediato e continua a reduzi-los automaticamente no futuro por via da redução do tempo de vida disponível para receber as pensões.
Cortem-se, portanto, as pernas aos portugueses e ponham-nos a correr. E, se se queixarem, chamem-lhes piegas que é para ver se reagem. Por exemplo:
- privatize-se a gestão e a propriedade das escolas públicas, despeçam-se professores, reduzam substancialmente os salários dos que fiquem e veremos aqueles alunos que, depois, serão os mesmos que vão ter dinheiro para pagar as propinas das universidades, a ir para outras escolas. Se isto não for suficiente, e não será certamente, a acreditar nas doutas opiniões de técnicos insuspeitos, ponham os pais a pagar as salas de estudo, os apoios educativos e todas as atividades que não tenham a ver com o currículos restrito e tudo se resolverá.
- criem-se as condições favoráveis para o aumento do desemprego, e, logo que seja possível, quando a coisa atingir proporções alarmantes, cortem-se os subsídios de desemprego. Muitos desempregados acabarão por morrer mais tarde ou mais cedo, para quê estar a gastar dinheiro com eles?
Há quem pense que esta propaganda governamental, oficial (dos seus membros) e oficiosa (dos comentadores) é anti-social, o mesmo é dizer sociopata. Há quem pense que um desbaste populacional é sempre uma medida útil. Por exemplo, se os idosos morrerem mais cedo, a desproporção entre pouplação ativa e pensionistas reduzirá drasticamente, mesmo sem aumento de natalidade e, sobretudo (o mais importante) sem aumento da população ativa. A proporção é isso mesmo, essa coisa que nos permite aumentar o rendimento, a população, etc. reduzindo aquilo que não tem interesse para quem manda. Só que, há uns tempos atrás, a medida mais popular e eficiente era declarar e fazer a guerra contra um outro país qualquer. Morriam uns tantos de um lado e outros tantos do outro lado, e os países voltavam a crescer.
Cortar as pernas ao povo e depois mandá-lo correr talvez seja um subtileza de cretinice galopante, e, como subtil que é, talvez seja um avanço civilizacional cretino que alguns consideram mais evoluído do que a guerra.
Não quero tomar partido nesta eventual polémica: mas talvez não fosse mau pensar nisto.
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