quarta-feira, 2 de julho de 2008
GOSTO PELA ESCOLA DIMINUIU
Gosto pela escola diminuiu
Sara R. Oliveira| 2008-06-27
Alunos portugueses de 15 anos são os que mais se sentem pressionados com os trabalhos da escola, entre 204 mil estudantes de 41 países que participaram no estudo Health Behaviour in School-Aged Children, da Organização Mundial da Saúde.
Mais de sete em cada dez raparigas portuguesas de 15 anos e 60% dos rapazes confessam que se sentem pressionados pelos trabalhos da escola. A maioria dos adolescentes está convicta de que a classe docente não a tem em grande consideração quando se fala em desempenho escolar. Nestes dois itens, Portugal fica em primeiro lugar no estudo Health Behaviour in School-Aged Children, da Organização Mundial da Saúde, que envolveu 41 países da Europa e da América do Norte. O inquérito abrangeu 204 mil adolescentes com 11, 13 e 15 anos e foi aplicado em 2005 e 2006. No nosso país, foram inquiridos 3919 rapazes e raparigas. Portugal surge no topo do insucesso escolar. Quarenta e nove por cento dos rapazes de 11 anos responderam que os docentes consideram bom ou muito bom o desempenho escolar, um número distante da média de 70% dos restantes países. O gosto pela escola diminuiu. Neste ponto, Portugal apresenta os valores mais baixos em todas as faixas etárias analisadas. Apenas 18 por cento dos rapazes de 15 anos dizem gostar muito do seu estabelecimento de ensino.
Margarida Gaspar de Matos, responsável pelo inquérito português e professora da Universidade Técnica de Lisboa, analisou os resultados, comparou-os com os obtidos em 2004 e verificou o que se passa nos restantes países. Há notícias preocupantes. O gosto pela escola aumentou em toda a Europa nos três escalões etários considerados e em ambos os géneros. Em Portugal, constata-se exactamente o contrário, ou seja, a diminuição do gosto pela escola nas três faixas etárias dos rapazes e raparigas. Na Europa, houve também um aumento da percepção da competência escolar - como achas que o teu professor te considera a nível do rendimento académico. Em Portugal, essa percepção diminuiu nos escalões dos 11 e 15 anos sobretudo nos rapazes, o que contraria a tendência europeia. Há um aumento do stress associado aos trabalhos da escola por toda a Europa nos três escalões etários. Em Portugal, verifica-se um aumento desse stress nas meninas de 15 anos e nos rapazes de 13 e 15 anos.
"Esta situação da relação com a escola parece-me a mais preocupante e a exigir soluções urgentes", indica Margarida Gaspar de Matos. O que pode ser feito? A docente traça alguns caminhos: "Valorização do sucesso escolar e reforço de medidas a nível da escola; exigência, responsabilização e expectativas positivas face aos alunos, relação com a ansiedade, aumento da percepção de competência; promoção do gosto pelo conhecimento, do gosto pela escola como cenário de aprendizagem e das expectativas positivas face à escola no futuro de cada um e à relação sistemática 'bom esforço-bom resultado'. Sem esforço, não há resultados". "O stress não ajuda os que se esforçam e se sentem competentes, nem os que não se esforçam e não se sentem competentes", realça.
O estudo dá ainda nota do aumento do número de alunos envolvidos em lutas pelo menos três vezes nos últimos 12 meses, nas faixas etárias analisadas e em ambos os sexos. "Este dado é preocupante, a circunstância positiva é que em Portugal, pelo contrário, há uma diminuição do envolvimento em lutas nos dois escalões etários mais novos e nos dois géneros. O envolvimento em lutas é nos três escalões etários, e em ambos os géneros, mais baixo em Portugal do que nos outros países da Europa", refere a responsável. "Este resultado sugere que 'os novos alunos' se envolvem menos em lutas. Este padrão é confirmado pela análise do envolvimento em bullying como ofensores e como vítimas", conclui.
Em Portugal diminuiu a percentagem de provocadores rapazes nos 11 e 13 anos e diminuiu consideravelmente a percentagem de vítimas rapazes nos 11 e nos 13 anos. "A situação das meninas oscila entre a manutenção (alunas de 11 anos quer ofensoras quer vítimas mantém-se) ou uma ligeiríssima subida (meninas ofensoras de 13 anos sobe de 8% para 9%) e ainda uma descida (meninas vítimas de 13 anos diminui de 16% para 13%). Tal como aconteceu com as lutas, a situação dos rapazes e das raparigas quer vítimas quer ofensores do grupo dos 15 anos agravou-se", constata. "A boa noticia é que, por um lado, o agravamento se circunscreve aos mais velhos, sugerindo que foi um problema que não está a ser renovado com os mais novos; por outro lado, a comparação com a Europa está no seu geral mais favorável do que no relatório de 2004, nomeadamente no que diz respeito às lutas e ao bullying/ofensores-vítimas, nos grupos mais novos", destaca.
Estados Unidos, Malta e Portugal lideram a lista quanto ao excesso de peso. Nestes países, as crianças com 11 anos têm peso a mais. As conclusões surgem depois dos inquiridos terem indicado a altura e o peso para que fosse calculado o índice de massa corporal. Os Estados Unidos aparecem no topo da tabela, com 25% das raparigas e 33% dos rapazes com 11 anos com excesso de peso ou obesos. Portugal surge em terceiro lugar, a seguir a Malta, com 22% das raparigas e 25% dos rapazes de 11 anos com peso a mais. Na faixa etária dos 13 anos, Portugal desce para a 10.ª posição entre os 41 países e sobe para o sexto lugar na faixa dos 15 anos com 13% das raparigas e 22% dos rapazes.
Há boas notícias no estudo. A diminuição do consumo de tabaco por toda a Europa, incluindo Portugal. A diminuição do consumo de álcool nos escalões dos 13 e 15 anos, com uma diminuição mais acentuada nos rapazes. A diminuição do abuso de álcool nos três escalões considerados e em ambos os géneros em Portugal. O número de alunos de 15 anos que já tiveram relações sexuais aumentou na Europa em ambos os géneros (20% para 24% nas meninas e 28% para 30% nos rapazes) e diminuiu em Portugal em ambos os géneros (de 23% para 21% nas meninas e de 30% para 27% nos rapazes). O número de alunos de 15 anos que usou preservativo na última relação sexual aumentou em ambos os géneros (70% para 72% nas meninas e 80% para 81% nos rapazes). E aumentou em Portugal em ambos os sexos, ou seja, de 78% para 84% nas meninas e de 69% para 86% nos rapazes. O número de alunos que tomam o pequeno-almoço e consomem fruta também aumentou por toda a Europa.
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