quarta-feira, 16 de maio de 2007
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ENSINO SEGUNDO JOÃO MAGUEIJO
Outro exemplo que me é querido é o TQA, ou Teaching Quality Assessement (avaliação da qualidade do ensino). Pretende-se que o TQA responsabilize quem ensina nas Universidades britânicas, dando assim ao governo a impressão de estar a fazer algo para melhorar a educação. Só que rapidamente deparamos com uma dificuldade considerável: como é que se mede a qualidade do ensino? Pior ainda, como é que se mede a qualidade do ensino de uma forma que os cérebros dos funcionários da Administração consigam entender?
Dado o carácter inerentemente subjectivo da questão, esses mesmos funcionários tiveram uma ideia genial. Porque não medir apenas a qualidade da documentação? Isso é objectivo quanto baste - atribuem-se pontos por documentos em que se descrevem os objectivos e pontos por pontos onde se prova que esses oibjectivos foram atingidos. (...) Quanto mais baixas as suas expectativas, tanto mais fáceis elas serão de concretizar.
O TQA gera literalmente toneladas de documentos, a amior parte aldrabados. Ironicamente, para produzir tais documentos o pessoal docente tem de dedicar menos tempo à preparação das aulas e portanto de ensinar pior.
(...)
Tomara que este problema se limitasse ao ensino superior, mas infelizmente não é assim. Nas escolas, os professores têm de provar que trouxeram "valor acrescentado" aos alunos, vendo-se assim obrigados a deixar de preparar as aulas e a passar em vez disso a trabalhar com dispendiosos programas para tratamento estatístico de dados fornecidos pelo governo, produzindo números sem significado para uso de funcionários governamentais que nunca puseram os pés numa sala de aula(...). Nos dias que correm, ser-se parasita é muito mais fácil e muito mais bem remunerado.
João Magueijo (professor de física teórica no Imperial College de Londres) in "Faster than the speed of light"
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