quinta-feira, 3 de setembro de 2009

CARTA ABERTA AO PRIMEIRO MINISTRO DE PORTUGAL


Senhor Primeiro Ministro,
Calculo que nem chegue a ler o que lhe vou escrever ou que, lendo, não lhe ligue nenhuma. No entanto, devia estar mais atento a algumas das coisas que aqui escreverei.
Em primeiro lugar, deixe de reconhecer a "falta de delicadeza" na relação que manteve com os professores. Se alguns deles têm dúvidas sobre se devem votar em si, esse tipo de afirmações acaba por os ajudar a decidir votar em qualquer partido que não seja o PS. Porque é o tipo de afirmações que exponencia, precisamente, essa tal falta de delicadeza, por desvalorizar as questões de conteúdo.
Em segundo lugar, mande calar de uma vez por todas a ministra da educação que não se cansa de defender a necessidade e a vantagem para o país que decorre da manutenção da guerra com os professores. Ela acha que há realmente "um preço a pagar com a paz com os professores". E não diga que este tipo de afirmações é um problema de comunicação.
Em terceiro lugar, o mais importante, reconheça que fez uma reforma na educação de pernas para o ar. A reorganização da rede escolar era prioritária, sim senhor. Mas a criação de quadros de educação especial, ainda antes de redefinição da política no sector é anarquizante, como se está a ver. A correcção do sistema de avaliação dos professores é, de facto necessária. Mas antes, era necessário dotar a escola de uma organização funcional. A legislação sobre a gestão das escolas não resolve o problema, antes o agrava porque foi elaborada a partir do preconceito de que a funcionalidade de uma organização depende exclusivamente da autoridade conferida, por estatuto, ao director. Erro de palmatória. A escola tem uma organização disfuncional, e o seu governo agravou essa disfuncionalidade. Não tenha dúvidas. O espaço de que disponho aqui não me permite explicar isto em pormenor. Mas estou à sua disposição, se quiser. Resolvido o problema da organização da escola, o modelo de avaliação a implementar torna-se quase óbvio, não exigindo esforço de maior.
Finalmente, porque é que insiste em manter a selectividade na promoção a partir de cotas de avaliação? A avaliação não pode, nem deve ter cotas. A promoção, sim, pode, não sei se deve, porque a profissão de professor tem características que exigem que, no fundamental, todos realizem o mesmo trabalho: ensinar os alunos. O que o seu governo fez foi manter o automatismo da progressão a partir da avaliação, só que com cotas. Na verdade, quer retirar da Administração a responsabilidade de limitar a progressão, colocando essa responsabilidade no terreno dos pares. A avaliação deve estar nesse terreno, mas a progressão não.
O seu governo fez coisas positivas no campo da educação. Mas esta incompreensão a respeito do que é fundamental numa reforma do sistema educativo, nomeadamente a funcionalidade da organização escolar, deita tudo a perder.
Não votarei em nenhum partido que proponha a suspensão da avaliação, porque este não é o problema central da escola. Mas também não votarei no PS. Votarei em branco, para manifestar o meu protesto contra algumas das suas medidas no campo da educação e contra aquelas que são a prioridade dos partidos da oposição.
Os melhores cumprimentos
Jorge Barbosa

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