Clarificação de conceitos
O autismo é uma perturbação do desenvolvimento que afecta essencialmente as capacidades de comunicar, de compreender a linguagem e de brincar e interagir com os outros. O autismo é um sindroma comportamental, o que significa que a sua definição e diagnóstico se baseiam fundamentalmente na detecção de padrões de comportamento. Não é verdadeiramente uma doença. Também não é contagioso, nem, tanto quanto se sabe actualmente, pode ser adquirido por contacto com o ambiente que rodeia a criança. É uma limitação de origem neurológica que, segundo se presume, está presente desde o nascimento repercutindo-se em comportamentos típicos, observáveis o mais tardar antes dos três anos. Embora todas as evidências científicas apontem para que o autismo resulte de uma perturbação do funcionamento e da estrutura cerebral, a causa específica mantém-se teimosamente desconhecida. De facto, é comummente aceite na comunidade científica que o autismo resulta de uma multiplicidade de factores, podendo cada um deles manifestar-se de diferentes formas. A etiologia do autismo é, portanto, ainda um enigma: as teorias sobre este assunto não são mais do que hipóteses interessantes, mas que exigem investigações mais credíveis.
A desordem de espectro autista é um termo cada vez mais popular que se refere a uma definição lata do autismo, que inclui a forma clássica de autismo e outras limitações relacionadas que apresentam muitas das suas características nucleares. A desordem ou perturbação de espectro autista (DEA) inclui, para além do autismo na sua forma clássica:
➢ Perturbação “Pervasiva” (Generalizada) do Desenvolvimento (em inglês: “Pervasive Developmental Disorder”) que se refere a um conjunto de características que se assemelham ao autismo, mas que se manifestam de forma menos severa ou menos extensa.
➢ Sindroma de Rett, uma perturbação que afecta só raparigas e que resulta de uma desordem genética implicando sinais neurológicos muito evidentes com repercussões comportamentais progressivas.
➢ Sindroma de Asperger que se refere a pessoas com autismo, mas que desenvolvem competências linguísticas
➢ Perturbação de Desintegração na Infância que se refere a situações em que as crianças se desenvolvem normalmente durante os dois (mais ou menos) primeiros anos, mas que regridem com perda da fala e de outras competências até à elaboração de características autistas.
Descrição do Comportamento
As pessoas com autismo são fundamentalmente caracterizadas por apresentarem dificuldades de desenvolvimento na comunicação verbal e não verbal, nas relações sociais e nas actividades de jogo e de lazer. Todos os autistas manifestam problemas acentuados ao nível das interacções sociais. Para além disso, exibem comportamentos estranhos, e movimentos repetitivos e “circulares”, incluindo comportamentos estereotipados e auto-estimuladores, resistência às mudanças nas rotinas e em outras características do seu ambiente e hipersensibilidade ou hipossensibilidade a certos tipos de estimulação específica que diferem de criança para criança. Algumas pessoas com autismo têm dificuldades de desenvolvimento global das suas competências, enquanto outras adquirem competências elevadas em certas áreas (música, mecânica, cálculo aritmético), manifestando atrasos significativos de desenvolvimento em outras áreas.
Abordagens Educativas e Apoio Educativo
Desde há mais de 50 anos, isto é desde que o autismo foi identificado como um sindroma, que têm vindo a ser sugeridos modelos de intervenção educativa muito variados. Esses modelos têm, por regra, origem em teorias científicas, mas nem por isso é garantido que sejam eficazes para todas as crianças com autismo. Actualmente, esta insuficiência prática mantém-se, apesar de algumas formas de intervenção serem promovidas pelos seus responsáveis como garantia única de sucesso. Esta promoção, comercialmente legítima, não tem, regra geral, qualquer fundamento científico que assegure a todas as pessoas com autismo a melhoria dos seus comportamentos e adaptabilidade. Todavia, as intervenções que resultam directamente de abordagens educativas e comportamentais têm-se revelado capazes de ajudar um grande número de crianças e adultos com autismo, sobretudo na medida em que apostem no ensino de novas competências que capacitem os autistas na funcionalidade do seu comportamento na vida do dia a dia, na escola e nas interacções com a comunidade. Muitos anos de pesquisa e experiência produziram importantes orientações para a organização da intervenção educativa das pessoas com autismo. Essas orientações não se traduzem eficazmente em modelos generalizáveis de intervenção, mas revelam-se, na sua grande maioria, de uma grande utilidade, na medida em que estabelecem marcos de referência para que os educadores, pais ou profissionais, construam com a criança autista um modelo adaptado de intervenção, de acordo com as características de cada uma. Com efeito, a categoria autismo não é prescritiva: não indica que intervenção deve ser providenciada ou como deve ser organizada para cada criança concreta.
De entre as orientações gerais que devem regular o esforço de programação individualizada da acção educativa, salienta-se:
➢ A vantagem de contextos bem estruturados;
➢ A utilidade de linhas de orientação muito precisas a respeito das expectativas de comportamentos apropriados e não apropriados;
➢ A necessidade de serem incluídos no ambiente da criança sistemas ou materiais, escritos ou pictográficos, que a possam ajudar a compreender e a prever o fluir e a sequência das actividades;
➢ A centração dos esforços educativos no desenvolvimento de competências funcionais que contenham utilidade imediata nos contextos de vida da criança;
➢ A utilização de estratégias para melhorar a sua comunicação e linguagem e para se relacionar satisfatoriamente com os ambientes complexos de casa, escola e comunidade;
➢ A participação dos pais e outros membros da família em todos os aspectos relacionados com a avaliação, programação do currículo, intervenção educativa e monitorização dos sucessos e insucessos;
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